É impressionante, ao lermos duas versões sobre um fato, percebermos que, de tão díspares, mais perecem fatos diversos. É quase isso que ocorre quando cotejamos biografias com autobiografias.
Ninguém saberá contar um fato melhor do que aquele que o viveu. Daí porque alguns fatos só são realmente detalhados em autobiografias – e, ainda assim, se o autor o quiser.
As biografias fixam nos anos, nos fatos, nas pessoas. Ao passo que as autobiografias fixam-se nas idades (“quando eu completei 38 anos…”), nas impressões e nos resultados dos acontecimentos.
É óbvio que a autobiografia padece do pior dos males: o viés pessoal, que significa sabermos que o autobiografado só conta o que acha que deve, e da forma como queiramos que acredite. Assim, a princípio, nenhuma – nenhuma – autobiografia pode ser considerada espelho fiel dos fatos.
Eu mesmo já escrevi algo parecido com uma autobiografia, o “Confissões de um Professor Universitário”, então posso falar com propriedade sobre isso.
Mas, viés por viés, as biografias escritas por terceiro também possui tais defeitos. Em tamanho tanto menor, pois biógrafos tentam se manter distantes do objeto de análise mas pouco, ou raramente, conseguem, já que acabam se tornando “fãs” de quem escrevem sobre, por maior facínora que tenha sido o biografado, senão fã da pessoa, fá da trajetória do biografado, e isso igualmente contamina o texto final.
Uma meio-termo de viés, como penso, é a biografia autorizada: é escrita por alguém dito isento, mas é filtrada pelo biografado. É quase que uma autobiografia escrita por um ghost-writer, ou algo parecido.
Há um dogma que afirma serem as biografias não-autorzadas as que contém a real verdade dos fatos. Isso pode ser verídico, desde que não tenha sido escrita, como o nome sugere, com uma ranço de aversão ao próprio biografado, algo como “vou desmascará-lo(a)!”.