Aquele viaduto do Aleixo passa por cima de algo que desapareceu há muito.
Era só um espaço vazio, com um descampado de barro (onde tinha um campo de pelada com traves sem redes), chão batido e capim, nada mais: era a “Bola do Coroado”. Ponto de referência para quase qualquer endereço de metade de Manaus. Servia como um espaço multi-uso.
Ao se adentrar à via que a circulada, se tinha vista panorâmica para as quatro confluências. De um só relance dava pra ver o V-8, a André Araújo, Rodrigo Otávio e Estrada do Aleixo (como era chamada a Alameda Cosme Ferreira).
Já vi acontecer naquela Bola:
Circo D´Itália – Lona vermelha e amarela. Era bem simpleszinho, tanto que o “palco” era de barro batido mesmo, mas ficou um bom tempo;
Circo Thayne – Esteve três vezes em Manaus (não confundir com o Circo Tihany!), pelo que eu lembre; duas, na Bola do Coroado. Aquele Globo da Morte com quatro motos tinha um barulho ensurdecedor; e tinha algo que nos outros circus não havia: o Globo da Morte se dividia ao meio, e ficava duas motos em cima e duas embaixo, fazendo valer o nome do número.
Circo Orlando Orfei – O mais bonito que por lá passou, era 1986. Como esquecer aquela dança das águas que havia no final do espetáculo? Ele fazia uns esguinchos de água ficarem sincronizados com o som; ao lado do circo havoa uma outra tenda, com um cinema, onde passava a história do circo;
Circo Gran Bartolo – Em tamanho, era o maior deles, com a lona azul-marinho e cinza.
Caravana de Ciganos – Era lá por 1983. Um grupo de ciganos acampou na Bola do Coroado por umas três semanas. Podíamos ver as tendas e as mulheres com lenços na cabeça, uns cavalos enfeitados, surreal!
Jogos do Peladão – Foram vários, ainda que nem arquibancada lá tivesse, nunca assisti a algum, mas lia no “A Crítica” o lugar dos jogos;
Festival Folclórico – Ocorreram pelo menos uns três, não sei se eram de Manaus ou do Coroado, mas ficavam bem lotado;
Parque de diversões – Aquele “Tom & Jerry” andou se instalando por lá, e teve um grande, mas que ficou pouco tempo, onde a montanha-russa parecia bem alta.

Quando chovia muito (muito mesmo), ficava como que um grande lago; uma espelho de água amarelo-laranjado, pelo barro;
A cidade só tinha três “bolas”: a do Coroado, da Suframa e do Olímpico. Nenhuma outra.
Já no início dos 90´s, acho que lá por 1991, MATARAM a Bola do Coroado. Construindo aquele reservatório da Cosama (era “Cosama”, na época); ainda houve só mais um único evento lá depois que construíram o monstrengo.Do nada metade dela foi fechada, e todos se perguntavam qual seria o empreendimento cultural da vez: não seria. Era a caixa de concreto. Nada foi avisado sobre o que seria construído ali; tomaram a bola de assalto.
Uma parcela da população achou um absurdo um espaço do público ser entregue à Cosama, para que lá colocasse uma caixa d´água – ouvi pela Rádio Difusora uns ouvintes descendo o sarrafo. Ali começaram a enterrar Bola do Coroado como a conhecíamos, até já surgia na mídia a alcunha de “Rotatória do Coroado”…
Logo depois da instalação do caixote de concreto, outras alterações vieram:
- Primeiro saíram tirando uns vinte metro do diâmetro, fazendo nascer mais duas faixas de trágego em volta;
- Depois, instalaram semáfaro;
- Depois, colocaram Agente de Trânsito nos semáfaros;
- Depois, depois, construíram o viaduto;
- E agora, além do viaduto, tem os Agentes de Trânsito embaixo.
(não duvido que re-instalem semáfaros lá, mesmo com o viaduto…)

Hoje aquilo já nem mais “parece” a”bola” que já foi; virou “Complexo Gilberto Mestrinho”.
Adorei! Fui ao circo Orlando Orfei e jamais imaginei que tinha sido na Bola do Coroado. Tempos bons!
E eu achando que essa “bola do coroado” era algo “sem valor” ou que não tenha tido história.
É muito bom saber sobre nossa cidade querida.