Ué, cadê a Copa?

Em 1994, uma notícia estranha corria a Copa: A de que boa parte dos estadunidenes nem sabia que estava sendo realizado uma Copa em seu país. Ainda que achássemos aquilo compreensível, já que o “soccer” nem é tão tradicional lá, era a primeira vez em que não se via um país-sede verdadeiramente entusiasmado com tal evento. Perguntávamos, ao vermos a notícia, como seria possível aquela falta de euforia em um país que sediaria evento (para nós) de tal importância.

Vinte anos se passaram, a Copa é aqui, e Manaus é uma das Cidades com jogo… e parece tudo meio devagar quanto ao evento.

Onde está a empolgação? O agito? Aquilo tudo que víamos em Copas anteriores (que nem eram aqui!)? Além da atual mania pelo álbum de figurinhas das Panini – que nem é tanto assim – está tudo meio sem empolgação.

Minha teoria é que são dois os motivos pelos quais essa Copa não empolgou tanto nas ruas, até aqui:

– Ela está vindo com um ranço de corrupção, e 9ainda bem) estamos ficando meio enojados de roubalheira partidária, com mau uso do nosso dinheiro; e

– Há uma decepção geral quanto ao que foi prometido naquela euforia da escolha do Brasil (e das cidades) para sediar a Copa, e o que acabou sendo realizado.

Um terceiro possível motivo é que se empolgar com a Copa seria um sinal, nesse momento, de alienação; como fazer uma música pró-país lá por 1969: Era sinal de alienação artística e alinhamento com “os monstros” do golpe.

Bem, nos últimos 30 anos, a copa onde Manaus esteve mais enfeitada foi a de 1986. Jamais vi uma copa como aquela em termos de ornamentação, nem a de 1982.

É que em 1986 tínhamos o mesmo técnico da mega-seleção de 82, Telê Santana; tínhamos um timaço, e a impressão de que “agora vai!”, deixado pela grande frustração de 82.

Junte-se a isso a euforia da “Nova República”, achávamos que o Brasil estava se tornando um novo país; o Plano Cruzado ainda parecia uma verdade; o ano em si já era diferente de qualquer outro, já que estávamos à espera do Cometa Halley. Então, a Copa seria a penas o coroamento de tantas expectativas.

Para se ter uma ideia de como tudo estava enfeitado, correu a moda de pintar o asfalto…. pronto: todos os bairros tinham várias ruas com as cores nacionais ou a bandeira do Brasil.

Em uma segunda feira fomos para o nosso comércio, o estacionamento da nossa loja era muito grande: a vizinhança havia se juntado naquele domingo anterior e tascou uma bandeira do Brasil em toda a extensão do estacionamento. Eu e meu pai achamos legal, minha mãe achou um absurdo. “Onde já se viu pintar a bandeira no chão para os carros ficarem passando em cima!?”.

A moda eletrônica daquele ano era o “orelhinha”; um rádio AM importado com uma presilha para orelha, tinha as cores verde e amarelo (eu gostava de escutar o programa da Turma da Maré Mansa, que era retransmitido em AM para Manaus). Eu pedi por reembolso postal, também, um rádio em formato de bola.

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O baque da eliminação da Seleção naquele ano não foi tão forte quanto o de 1982, talvez porque já tínhamos ficado meio anestesiado da pancada anterior.

Hoje, a 25 dias do início da Copa, não vejo nem 10% do que vi em enfeites do que vi naquele ano.

É claro que perto da Copa tudo estará enfeitado (eu acho), mas, até agora… pouco; aliás, parece até que está havendo uma ressaca antecipada da Copa que nem começou.

Ao menos esse é o clima, nesse 19 de maio de 2014.

Author: Marco Evangelista

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