O início dos 70, pelo que capto de tudo o que já li, vi, assisti, escutei sobre surgia como uma embate a todo que era engomadinho e certinho nos anos 60.
O visual com cabelos grandes, barbas, costeletas, óculos grandes, cigarro, cerveja e um ar de sujeira (inexistente, mas é que passa nas imagens) e desleixo deixava claro que se queria enterrar aquela década de 60.
As pessoas tinham esse ascpecto que citei mesmo sem perceber; pois não era “moda”, como se costuma dizer, mas sim inconsciente coletivo. Aquilo passou a ser o padrão do que era atraente, e assim ficou por uns bons sete ou oito anos seguintes.
As músicas queriam deixar claro os ataques sonoros, com instrumentos cortantes; menos joguinho de vozes nos vocais. Tudo muito elaborado, mas mais “cru” (essa é a palavra: “cru”, sem os tostadinhos e perfumes da década anterior nas músicas gravadas).
Ainda havia muita coisa a ser descoberta.
Os roqueiros nascidos no início dos anos 40, que estouraram nos 60, mergulharam cada um no seu inferno particular (mais uma vez, a negação do mundinho azul da década anterior); e todos se perceberam humanos, com os defeitos e erros – menos máscaras que nos 60’s. Aliás, quase todos os grandes músicos que iniciaram sua arte nos anos 60, afirmam de algum modo que foi nos anos 70 seu auge criativo ou performáticos – ao menos quanto aos nossos grandes da MPB, isso é uma verdade quase absoluta.
Noto que se acreditava estar na vanguarda do que podia haver em tecnologia – calma, eu explico: Hoje sabemos que qualquer aparelho que usamos será obsoleto daqui a uns meses; naquela época, me parece que não havia tal consciência. A invenção doméstiva da época era a TV em cores e o controle remoto, depois surgia relógio digital, depois calculadora eletrônica, enfim, novos grandes inventos revolucionários, mas nenhuma mudança ou evolução nos que já existiam – e não me parece, olhando 40 anos depois, daqui, que não era falta de anseio por novas tecnologias, é que acreditavam que aquilo ali já era o ápice do que a humanidade podia ter gerado – ora, o homem tinha ido à lua há pouco, o que mais se poderia esperar de avanço?
Lá pelo fim dos 70ś (agora eu já posso escrever LEMBRANDO) se podia sentir uma deprê geral. Uma vontade de que os anos 80 chegasse logo, aquela década estava já sendo um fardo para quem lá vivia.
Não havia absolutamente ideia do que ou como seria a década seguinte, e já não existia mais ligação da imagem com a iconografia da ápoca. Os cabelos ficaram mais curtos, mas redindos, as barbas continuavam crescidas, mas aparadas. Pelo que lembro e vejo nas minhas fotos de criança, as mulheres ficavam com o rosto mais colorido; algo beirando verdadeiramente o (hoje) ridículo.
Tudo isso faz sentido quando cotejamos com a história, e descobrimos que o mundo inteiro naquele fim de década estava com o rumo perdido. Dava a impressão de que nada mais havia para existir de revolucionário, novo e bom.
A disco music tirava a música dos ouvidos e a trazia para o corpo – e nem era uma música de jovens, apenas; adolescentes e segunda idade (nem existia esse conceito, na época) dançavam aquilo simultaneamente, algo que nunca soube acontecer antes, ou vi acontecer depois.
O Punk (essa sim, só para jovens) negava tudo o que havia de musicalidade elaborada até então, como que jogando na cara de todos que tudo o que havia de pop e rock stars eram lixo, uma vaidade inútil; que o real era o caos, e o lixo era a forma de dizer “o rei está nu”. Não é à toa que os anos 80 foram uma explosão de cores, alegria e eletrônicos.
A imagem do fim desse post (tirado do site http://www.wallpaperfromthe70s.com) , mostra EXATAMENTE como os anos 70 são na minha lembrança (pelo que vivi dele) e de como o vejo sempre que leio, vejo ou assisto sobre. Algo querendo ser colorido mas desbotado, mas com muito marrom, sem vida.