A parte boa, e que já digo que suplanta qualquer parte ruim, foi a emoção de ver em tla grande o filme/concerto que tanto eu assisti desde a adolescência, em uma fita VHS comprada na Bemol, reproduzida em um video-cassete Philco-Hitachi PVC-3000, em uma TV estéreo de 20 polegadas. Agora, seria em IMAX (no UCI do Manauara Shopping).
A divulgação promovida pela banda foi perfeita, há uns dois meses divulgam em tudo quanto é mídia. Estaria lotado, certo? Errado. Um terço dos locais da sala ocupados, por homens (na maioria) na faixa dos 40 a 60 anos, cabelos grisalhos, rechonchudos – bem com eu multiplicado ali. É óbvio que foram os que também estão carecas (quase literalmente) de assistir ao “Live at Pompeii” há décadas. Como eu, não estavam ali para descobrir o conteúdo, mas para revê-lo em forma nova.
A expectativa estava tão alta que ficávamos com raiva e apreensivo por cada trailer (e foram muitos) antes do filme, nunca aquela porcaria de “fato ou fake” foi tão chateante…
Começou. Com batidas de coração, uma inovação do VHS. De cara percebemos que limparam as imagens mesmo, ficaram límpidas, claras e definidas.
Somente a primeira música, a “Echoes parte I” bastaria para fazer valer o preço do ingresso (quase 50 paus), a icônica abertura já dominou a plateia e deixou todos em êxtase.
A primeira metade da música “A Saucerful Of Secrets”, que não ficava tão legal na TV, no cinema ficou brilhantemente legal, tanto na melhora do áudio (que ficou com os canais dos instrumentos mais claramente separados). A decepção veio na segunda parte, onde surge o tema instrumental principal: continuou com o som abafado e escondido como nas edições de sempre. Perderam a oportunidade de re-equalizarem a faixa igual como a TV Manchete fez no especial de 1988 onde transformaram esse trecho em um show de timbre, com o tema principal da guitarra em primeiro plano, alto e claro.
Na “One of These Days”, houve umas rápidas imagens novas no que antes eram apenas imagens do baterista Nick Mason durante toda a música. Aliás, depois do Roger Waters, a estrela do filme é o Mason – já sabemos o quanto ele toca muito e bem, mas vendo-o na tela grande nos fez colocá-lo, tecnicamente, bem próximo o próprio Neil Part. Aquela cena onde a baqueta cai da mão dele no meio da virada, e ele pega outra, ficou ainda mais icônica.
A “Careful With That Axe, Eugene”, que no VHS e DVD parecia entediante (é a mais arrastada do setlist), no cinema ganhou um bust que antes não tinha, o baixo ficando em primeiro plano e serviu (ainda que essa não tenha sido a finalidade, penso), para dar o Roger finalmente o respeito como baixista que ele não tinha (sempre foi apontado apenas como “um baixista ´ok´ – mormente depois que David Gilmour afirmou ter gravado o baixo de várias músicas do PF, de fato). Nessa música Roger desenhava a linha melódica e mandava uma dinâmica que não aparecia nas versões anteriores.
É incrível como as músicas pareceram mais curtas no cinema; talvez porque estávamos sobre o clima da teatralidade das cenas em tela grande; a “Echoes parte II“, por exemplo, que naquele momento de som de coiote parece bem chata em VHS e DVD (e no Cd também! tanto que na web tem até versão editada dela, sem essa parte).
Bom, e o que teve de ruim?
A primeira parte negativa é o som. Que foi o principal motivo que me levou a querer vê-lo no cinema (acho que de muitos). Esperávamos um som alto, surround, envolvente mesmo, que nem o som do Cinemark quanto passou o show do Led Zeppelin de 2006 (que passou no cinema em 2012). Mas… não! Talvez a culpe tenha sido do cinema, que passou o concerto como se fosse um filme comum: o som estava magro, baixo, sem absolutamente qualquer emoção. Quem não conhecesse realmente as músicas e as ouvisse pela primeira vez, não sei se saiu tocado na alma ali.
A segunda parte negativa é que não expandiram a imagem, ficou aquele telão todo do cinema com as laterais brancas e o vídeo só em um quadradinho no centro. Nem que fosse aumentando o zoom (como fizeram no DVD remaster de 2002), é claro que dava para deixarem a imagem maior! (viagem pessoal: bem podiam tentar fazer uma versão 3D desse concerto!).
Saí da sala com o sorriso de ter voltado aos 13 anos por uma hora e meia, e a frustração de saber que aquilo poderia ter sido uma experiência muito mais tocante e inesquecível se os produtores assim o tivessem querido.
Quem sabe em um próximo relançamento? Mas, o saldo, certamente, é positivo. Valeu, e está valendo!