Embora o tenha conhecido na faculdade (eu iniciava o curso enquanto ele concluía), foi como professor que mais o tenho em lembrança. Professor da Escola de Magistratura.O cara vivia alegre, se tinha problemas, não parecia.me mostrou definitivamente que aula não precisa ser chata para ser aula, percebi logo que, quando e se eu fosse professor um dia, no mínimo iria querer aproximar minha aula das dele.
Ele unia conteúdo a forma aprofundando o primeiro e levitando o segundo.
Embora eu não faltasse aula, ir para lá em dia da aula do Nasser tinha um motivo a mais e especial, sabíamos que teríamos conteúdo+show e, pasmem: entretenimento. No fim, aprendemos sem nem ter percebido.
Falando sobre homicídio, fingiu morrer e gritou: “O professor morreu!” – Arrancando aplausos da sala, pela performance;
Quebrou um copo em sala, certa vez – até hoje não sei se foi acidente ou proposital;
Em uma aula ele notou que o assunto ficou difícil e pesado: ele parou e contou a história do dia em que calçou o sapato com uma barata dentro, só voltou à aula quanto viu a sala toda rindo das paradas da história – consciente ou inconscientemente fez todo mundo relaxar a cuca para prosseguir a aula;
Em uma aula, ele explicava sobre o crime de sedução, chamou para exemplificar o crime um casal de alunos, sentados em locais distantes na sala. Só depois eu vim saber que os dois chamados eram ex-namorados e estavam meio sem se falar… – e o Nasser sabia disso!
Em outra vez, olhou para um livro em uma carteira e perguntou de uma moça: O que é isso? – Um resumo respondeu a moça. – Você está estudando por resumos? – Sim. – Olha o que a gente faz com resumo: (e jogou o livro na parede) . Ele podia, afinal, o Nasser era o Nasser.
Terminou a última aula lendo para nós trecho de um livro onde Dias Gomes contava os bastidores da gravação da última cena gravada da novela Dancing Days. O Nasser era um noveleiro confesso.
Mas ele não nos deixaria ainda: foi escolhido para ser o nossa “Aula da Saudade” da Turma Pioneira da ESMAM. E na aula da saudade (inaugurando o então novo auditório do prédio da ESMAM da Praça da Saudade, hoje abandonado) o Nasser, ao invés de mandar aqueles discursos clássicos de Aula da Saudade resolveu… ministrar aula! Isso mesmo! Aula, normal, na Aula da Saudade! – E foi muito legal!!!
Jorge Mendes, nosso professor na ESMAM, advogado e juiz aposentado, nos disse certa vez: “Vocês são alunos do Nasser? Aquele cara é um anormal de tanto que ele conhece de direito! E não é só penal não? Qualquer coisa que você perguntar, de qualquer ramo, ele manja!”
Nasser nos mostrou que alguém de nossa geração pode se tornar expoente e ser admirado dentro de nossa própria geração. Estávamos – e ainda estamos – acostumados a endeusar os que vieram ou atuaram antes de nós, já conhecemos os grandes do direito como mitos. O caso do Nasser é peculiar: se tornou grande perante nossos olhos e em nossa época.
Nos mostrou também, infelizmente, que essa nossa geração Rock in Rio (I!), a geração coca-cola, é tão frágil quanto qualquer outra (justo nós, que iríamos mudar o mundo), afinal, como disse certa vez Pablo Stolze em uma uma aula: pra morrer é rapidinho, é só uma veiazinha do cérebro que estoura e bum! – É, agora estamos aqui, agora não.
Imagino que o Nasser vai ser um daqueles que nunca morrem, e vamos contar aos nossos filhos sobre ele.
Então, um abraço, Nasser; até a próxima aula.