The Beatles Live at the Hollywood Bowl [resenha]

Foi o primeiro disco ao vivo que escutei. Até aquele 1987, eu achava que todo disco era gravado em estúdio.

Comprei-o na Mesbla, comprei por causa da capa (da época). Naquele sábado teria uma festa de família de noite, e lembro de eu conversando com um tio:

– Comprei um disco dos Beatles que não presta: tem muita gritaria, parece que gravaram de um show.
– É um disco ao vivo, pow! – Como se não acreditasse que eu não sabia o que fosse.

Vamos combinar que disco ao vivo nos anos 80 era complicado, pois o som já trazia ruído natural do vinil, imagine com a gritaria em volta da música. Só depois, bem depois, é que descobri o lance da gravação ao vivo, captar o clima da energia, não apenas a música.

Tive contato com alguma das músicas pela primeira vez através desse disco, já que na época eu ainda não tinha a
discografia completa dos Fab Four, foi assim como a “Things We Said Today”, “Boys” e “Dizzy Miss Lizzy”.
O tempo passou, fiquei mais de 25 anos sem escutar a obra.
Soube que a relançariam.
Corri para escuta o streaming, depois comprei o disco na Saraiva.

Valei a pena as quase 40 pilas que torrei no CD, estava realmente incrível o som dos cara, e se imaginarmos que não
existia nenhum recurso de afinação vocal, nos fica muito claro porque eles eram os melhores.

Esse disco foi responsável pela primeira desavença que tive em uma banda. Em 1988 fui tocar na casa do baterista José Augusto, com ele e Darlan tínhamos uma banda (que só teve esse ensaio) chamada “Tropa de Choque”. É que a primeira faixa era “Twist And Shout”, e a versão ao vivo, desse disco, começa direto com o “Aaaaa Aaaaa Aaaa…” – Como eu nunca havia ouvido a versão original até então, eu tinha certeza que a música iniciava com o “Aaaaa Aaaa Aaaa…” – O Eduardo Moreno, irmão dele, teimou comigo que a música iniciava já com o verso “Welll shake it up baby, now!” – E ele estava com a razão, já que no disco original (O “Please Please Me”), começa direto mesmo. depois de alguma discussão, e com todos concordando com ele, acabei tocando como queriam. Só depois, ouvindo o Please Please Me, vi que os caras estavam certos – E já me deixou claro dali que a versão ao vivo não precisa, necessariamente, ser igual ao estúdio, bom…

No que tange ao relançamento do disco:

1 – O som está tremendamente melhor, foi um grande trabalho do filho de George Martin;
2 – Novas músicas foram acrescentadas;
3 – Trocaram a capa, uma pena, estava acostumada àquela capa bejezona – mas ao menos nos deixa a impressão de ser um disco realmente “novo”;
4 – O encarte tem muitas páginas, mas simplesmente não traduziram, embora seja um lançamento nacional (o disco não é importado), um acinte ao consumidor, penso.

A capa era assim:

para_post__the-beatles-at-the-hollywood-bowl-by-the-_2

O texto, que sempre lia a cada vez que escutada, era esse:

 

“Há mais de doze anos atrás o Beatles se apresentaram pela primeira vez no palco do Hollywood Bowl. Em Los Angeles. Haviam causado seu primeiro impacto na América não muito antes, mas eu á os tinha sob contrato de gravação para a EMI, há dois anos. Para falar francamente, eu não era favorável à gravação do concerto, tinha certeza que não poderia ficar tão boa quanto às que fazíamos no estúdio, mas resolvemos tentar assim mesmo. Tecnicamente, os resultados foram desapontadores. A condição de trabalho dos engenheiros foram extremamente difíceis. O caos – quase posso dizer pânico – que reinava nesses concertos era inacreditável, a menos que você estivesse lá. Só foi possível fazer uma gravação em três canais. Os Beatles não contavam com um sistema de “Fold Back” e não podiam ouvir o que cantavam, além disso, os gritos incessantes de 17.000 pulmões jovens e saudáveis tornariam inaudível até mesmo um avião a jato.
Um ano mais tarde – em 1965 – John, Paul, George e Ringo apresentaram-se mais uma vez no Hollywood Bowl, e mais uma vez a Capitol gravou o espetáculo para a posteridade. Os tapes ficaram guardados por mais de uma década. os rapazes e eu achávamos que não poderiam ser usados porque se compunham de números que já haviam sido lançados em discos de estúdio.
Falávamos sempre em fazer uma gravação ao vivo e, na verdade, essa foi a ideia inicial do malfadado álbum “Lei it Be”, onde seria utilizado um material novo.
Por tudo isso, foi com uma certa prevenção que concordei em ouvir aqueles primeiros tapes, a pedido de Bhaskar Menon, presidente da Capitol. O fato de serem as únicas gravações existentes dos beatles ao vivo – sem contar as ilegais, de qualidade inferior – não me impressionou muito, o que me impressionou foi a atmosfera eletrizante e a vibração espontânea que captaram.
Junto com meu engenheiro de gravação Geoff Emerick comecei a trabalhar para trazer o show de volta à vida. Foi um trabalho de amor, pois não saberíamos se ficaria sufientemente bom para ser ouvido pelo mundo – sem mencionar John, Paulo, George e Rinco.
Transferíamos a potência de três canais para a moderna multicanal, fizemos a remixagem, purificamos, nivelamos e, de um modo geral, aperfeiçoamos os tapes. Assim, trabalhamos cuidadosamente as duas gravações. Produzimos essa que você vai ouvir agora. obviamente, não houve alterações. As vozes e instrumentos são interpretações originais – certas harmonias vocais, com três cantores num só canal – constituem prova suficiente disso. É um trecho da história que jamais se repetirá.
Aqueles que tiveram a felicidade de ouvira um concerto dos Beatles ao vivo – em Liverpool, Londres, New York, Washington, Los Angeles, Tóquio, Sidney ou em qualquer outro lugar – sabem o quanto suas interpretações eram surpreendentes, únicas, não era apenas a voz dos Beatles, era a expressão de todos os jovens do mundo.
Aos que ficam imaginando o porque de todo este estardalhaço em torno deles, esse álbum deverá dar uma pequena ideia, pode ser apenas um pobre substituto para a realidade daqueles dias, mas, agora, é tudo o que resta.
No desiludido e sofisticado mundo de hoje é difícil compreender a emoção provocada pelo rompimento do conjunto. uma vez, minha filha mais nova, Lucy, agora com nove anos, falou-me a respeito deles: “Você costumava gravá-los, não, papai? Eles eram tão bons quanto o Bay City Rollers?”, “Provavelmente não”, respondi. Algum dia, ela mesma descobrirá.
Aqueles que clamam pela reconciliação dos Beatles não percebem que nunca mais poderia ser a mesma coisa. Os rapazes, à sua maneira, nos deram muito de suas vidas como os Beatles e, agora, encontraram a sua própria individualidade. desejo-lhes boa sorte, sinto-me orgulhoso de ter participado de sua história.
Muito obrigado a John, Paul, George e Ringo.
George Martin.”

 

Algo muito legal do disco original era ter um envelope com a capa de todos os discos:

 

para_post__the-beatles-at-the-hollywood-bowl-by-the-_1

 

Essa capa funcionava como a tabela do álbum de figurinhas, onde eu ficava marcando os discos que já tinha e os que ainda faltavam, e gravava as capas para que quando eu andasse por qualquer loja e visse a figura, já comprava.

(Liê, obrigado por me avisar sobre os erros de digitação e formatação do post 🙂  )

Author: Marco Evangelista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *