Vocação, vontade e curiosidade não bastam para encarar a vida profissional nas áreas jurídicas. Antes de se decidir, cheque se passará no teste das características abaixo. Se você tiver ao menos quatro delas, melhor mudar logo de ramo, de curso ou de meta.
1 – Você não gosta de gente – Operador do direito, seja em qual atuação for, terá contato com o público, em maior ou menor grau. E não basta gostar de gente, precisa ser afável, pois tal carisma integra o próprio poder de argumentação. Se poderia dizer que para ser juiz não precisa convencer, bastando decidir… isso é verdade para juiz de primeiro grau, mas do segundo grau em diante, onde os julgamentos são colegiados, o juiz precisará sim ser bom de convencimento, já que de tal integrará o poder de convencimento de seu voto na corte. Existem profissões onde a sociabilidade não é requisito, como o design, calculista, redator, onde se pode isolar de todos e ser um excelente profissional (aliás, grandes gênios da história possuem fama de serem antissociais);
2 – Você odeia ler – Existem profissões onde você precisa “apenas” se atualizar, como contabilidade, medicina, economia: o núcleo básico de tal conhecimento não muda (já ouviu falar que o corpo humano mude?). Dou o meu exemplo: cursei um ano de Economia em 1993, parei, e quando voltei ao curso, em 2011, NADA havia de diferente a ser estudado, as teorias de Musgrave, Adam Smith e Keynes estavam lá bonitinhas como sempre foram. Agora, Direito… amigo, aqui o próprio núcleo muda com o passar do tempo, hoje a Constituição é uma, amanhã uma Emenda muda a interpretação de um terço da mesma, os Códigos Civil, Penal, etc estão a uma caneta de distância de alguma mudança: ou seja, no Direito você não precisa apenas se atualizar, precisa estar “in tune” com o próprio assunto dia a dia. Se você é acomodado para ler, mude de curso ou de profissão, rápido.
3 – Você não dispende dinheiro com livros – Bem, nenhuma biblioteca de nenhuma faculdade terá livros 100% atualizados quanto às normas, terão que vir do seu bolso mesmo. Muito dos assuntos não lhe serão acessíveis nem pela internet, posto que os autores preferem vender conhecimento a disponibilizá-los gratuitamente (isso se chama capitalismo, aprenda). Então, prepare seu bolso para torrar uma boa grana em livros (e, como eu disse no tópico acima: gaste e leia, ou virá logo a nova edição, com mudanças, e você perdeu o que gastou). Ah, eu não estou dizendo que os economicamente humildes não farão um bom curso; não disse que precisa ser rico ou ter muito dinheiro, falei em comprar livros, ou seja: questão de prioridade e não de riqueza!
4 – Você não está adaptado à tecnologia – Até pela velocidade das mudanças e praticidade da vida cotidiana, grandes obras jurídicas, Diários Oficiais e os próprios processos judiciais estão se virtualizando, ou seja, sendo disponibilizados apenas em meios eletrônicos, pela internet. Trate, HOJE, de aprender todo o necessário para ser safo na rede e se acostumar a ler em dispositivos como celulares, tablets e e-Readers, seu futuro no Direito dependerá disso!
5 – Você gosta (e busca) certezas – Direito é o teatro das incertezas. Nada, NADA no Direito é absoluto, um “pequeno microdetalhezinho minúsculo” será o motivo de duas decisões totalmente diferentes de um caso para outro que, na sua cabeça, eram exatamente iguais (e poderão ser mesmo, só que a ´tal diferença´ estava em um ´entendimento´ do Magistrado); daí porque tudo no Direito é argumentado, e nada é delimitado (pois até os limites são incertos);
6 – Você é avesso a concorrência – Lamento lhe dizer que as áreas jurídicas são as onde mais competição existe! O coleguismo de faculdade logo virará disputa futuramente. É bem verdade que, saindo da faculdade, haverá 39 possibilidades de carreiras jurídicas acessíveis por concurso público, NENHUM outro curso superior oferece tal gama…. mas igualmente, para cada uma dessas oportunidades, dezenas e centenas por vagas surgirão, com pelo menos um terço dos concorrentes bem preparados. E ainda assim haverão concursos diabólicos onde, simplesmente, as vagas ficam em aberto por falta de (na visão dos organizadores dos concursos) “candidatos qualificados” – O que confirma o meu tópico 2 aqui no post.
7 – Você se decepciona fácil – Logo você perceberá que metade do que aprendeu no curso de Direito da faculdade é “mudado” pela prática, que a prática possui suas próprias normas, não ensinadas na faculdade, e que a Justiça não é tão justa quando você esperava ou de diria que fosse; se você não lida bem com decepções, corra!
Então amigo bloginterator, é isso. Se você está no fim do curso e acha que Direito não é sua área de atuação, faça como meu pai, que se formou, envelopou e guardou o diploma e foi seguir sua área de predileção. Mas, se ainda está no início da faculdade, ainda dá tempo de trocar, e troque logo.
