Já havendo contratado 17 trabalhos de design (dentre tais trabalhos, essas capas aqui), posso emitir algumas impressões sobre, como cliente, os vejo.
Dois são os motivos pelos quais contratamos um Designer:
- Temos um conceito, e precisamos que o Designer transforme aquilo em imagem; ou
- já temas a imagem mentalmente criada, quase a podemos vê-la, mas não temos as habilidades e ferramentas para transformar aquilo que temos em mente em algo material.
Saber BEM para qual dessas duas funções um cliente procura um Designer, deveria ser o primeiro passo desse profissional, isso impede que ele queira criar onde não for chamado (no caso 2) ou deve incrementar a sensibilidade, quase podendo ler a alma, para conseguir sentir o que o cliente está imaginando (no caso 1).
O Designer é, antes de tudo, um artista – no mais exato sentido da palavra – e conseguir conciliar sensibilidade artística e profissionalismo é coisa para poucos.
Já tivemos caso em que um Designer abandonou o projeto, saiu com raiva (levando o pagamento) só porque eu disse “Está horrível!” à imagem apresentada. Se tive trato ou não independe: eu havia achado horrível mesmo; e ele fez o que já outros Designers também já vi fazer: tomam o julgamento da imagem como se fosse uma impressão sobre o seu trabalho pessoal como Designer, e se sentem insultados. Como eu disse: arte e profissionalismo não tem convivência fácil.
Alguns Designers não possuem a palavra “prazo” em seu dicionário; acham que, por ser uma atividade intelectual, e o é, podem dar “tempo à inspiração”; é muito fácil indicarmos a um amigo que nos pede recomendação sobre algum Designer: “Você prefere o gênio preguiçoso ou o rapidíssimo chinfrim?”.
(Quanto à imagem acima, essa é a capa que mais gostamos, quanto ao resultado final. Pedimos ao Designer determinada ideia, levamos o desenho pronto, ele mudou o desenho, veio com algo diferente, e achamos tão melhor do que nossa ideia que a aceitamos prontamente – foi a rara situação em que fomos positivamente surpreendido por um trabalho que o concebemos, inicialmente, bem diferente.)
Ora, eu, quando pinto umas telas, posso ter todo tempo que quiser mesmo, já que não é minha profissão nem produzo sob encomenda; mas o Designer precisa saber que todo um projeto está no aguardo daquela imagem.
Assim portanto somos nós, clientes de Designers: já nos acostumamos a andar com sapatos de lã e pisar em ovos quando tratamos com eles, procuramos em centenas de palavras as que usaremos para dizer “não gostei”, “mudemos aqui”…
(Nesse post você pode ler sobre a saga de uma de nossas capas, e que envolveu mais de um Designer, até encontrarmos um que captasse o “espírito” que queríamos, para a obra – aliás, foi a que nos saiu mais cara até hoje)
A questão técnica também é importante. Já passamos por casos onde da editora me ligaram para avisar que “a resolução do arquivo da capa estava abaixo do mínimo aceitável para impressão” ou, o que foi mais grave, “a gráfica só trabalha com arquivos Corel, e a capa estava em FireWorks”, e coisas desse tipo…
O Designer ideal é, definitivamente, o que reúne três características:
- É um “gênio criativo”;
- É “rapidíssimo”; e
- É tecnicamente otimizado.
(Note que nem me referi a preço, pois se conseguirmos um profissional na estirpe dita acima, não nos importamos de pagar alto).
Devido a tais eventuais (não todas) experiências tensas com designers, meti a cara e eu mesmo, com o paint e outros softs básicos, elaborei a capa do meu mais recente livro para a Amazon. A quatro dias do deadline, eu não tinha um designer que materializasse aquilo, nem eu teria saco de entrar no jogo psicológico de refinar o trato para com tão temperamentais profissionais (nos anos 90, quando eu era roqueiro, achava que os profissionais mais sensíveis a críticas fossem técnicos de gravação; não são não, são os designers!), resultado: fi-la eu mesmo. Ficou com qualidade mínima apresentável, longe de algo top, mas ao menos exatamente como eu quis… e levou só umas horas para aprontar!
(quanto à figura acima, essa capa foi elaborada por mim mesmo, por estar “em cima” do prazo de entrega e eu não ter tido, digamos…. “saco” para melindres de profissionais de design que eu conhecia.)
Bem, devo dizer que acho o Designer um profissional necessário (notem que usei sempre “D” maiúsculo), e que minhas experiências pessoais com alguns da classe não encobrem a enorme importância de tais atuantes – são eles que comunicam com imagem o que geramos em pensamento.
A relação com Designer é assim mesmo: amor e ódio – maldito subjetivismo da arte gráfica!
Me referi ao disign gráfico, de imagens estáticas; mas creio que o mesmo se aplica às outras vertentes desta arte-profissão.
Teremos algumas dezenas de projetos em frente, espero encontrar “O” Designer, para que ele se torne o único e nosso eterno contratado de confiança.
Parabéns aos Designers, pelo dia de hoje.