Desde que se soube que Roger Waters lançaria uma “versão do diretor” da obra-altar “The Dark Side of The Moon” (TDSOTM), a dúvida surgiu para os roqueiros velhos? O que ele aprontaria? Como ele ousaria mexer em algo perfeito?
Pouco tempo antes ele entrego ao mercado uma versão remixada do Animals, que eu gostei muito, mas trouxe raiva para alguns, por estar com tudo muito alto e comprimido, tendo perdido um pouco da dinâmica do disco original de 1976.
Eu tinha a certeza eu o disco TDSOTM viria pesado, porrada, posto que havia lido na biografia do Pink Floyd que, naquele 1973, houve uma dentre tantas desavenças entre Roger e David. David Gilmour queria um disco suave, pasteurizado, nos moldes do anterior Meddle, e Roger Waters queria um disco pesado, seco.
Bem, se Roger ia lançar a versão dele, é claro que, finalmente, viria pesado! Cru! Yesssssss!…
Então o que viria?
Veio. Inicialmente, em forma de singles.
Estranhamento. Choque; Gelo: Era outro disco; uma releitura totalmente pessoal e diferenciada do TDSOTM. Nada e em nada parecido ao original.
Hoje escutei o disco inteiro, mais de uma vez. Eis a impressão:
É um novo disco de Roger Waters, não do Pink Floyd. Para quem já escutou seus discos anteriores, conhece bem o estilo? voz mansa, fraca, mais falada que cantada. E é EXATAMENTE isso que vamos encontrar nesse TDSOTM.
Já sabendo disso, eu, sob efeito pigmaleão, já sabia que ia gostar, e gostei.
É a primeira dica: se vai esperar um TDSOTM versão 2023 ou regravado, nem escute! É longe disso, por isso as opiniões negativas que podem vir a existir.
Mas quando se o escuta sabendo que é uma obra própria do Roger Waters e está absolutamente no seu estilo, o efeito fica mágico, hipnótico.
A parte ruim: Não tem a pressão sonora, o impacto o ritmo e pulsação do TDSOTM. Não tem sons espetaculares, nem viradas, nem vocais espetaculares.
A parte boa: está imersivo, viajante, introspecto e, melhor: NOVO (é a terceira vez que escrevo isso, é involuntário).
Ele, Roger, sabe colocar a voz dele de 80 anos como a música precisa, e não como se estivesse naquele 73.
Vou confessar algo que normalmente eu não diria: Ele salvou duas músicas do TDSOTM. Duas músicas que eu menos gostei desde sempre: “The great gig in the sky “(desculpe Clare Tory, mas aquela gritaria ficou meio fora do contexto do disco, está dito) e salvou também a “Any colour you like”: sempre me pareceu que essa música era só um tapa-buraco para completar a duração da obra. Ah! E, claro, salvou a “On the Run” (que era só barulho mesmo).
Nessas duas Obras Roger coloca letras faladas e solo de teclado onde precisava.
É o disco certo para escutar quando quiser encontrar você mesmo. Trilha sonora para trabalho, estudo e planejamento.
É o primeiro disco que eu realmente gostaria de comprar o CD físico, mas definitivamente, `s portas dos meus 50 anos, rompi com isso, levou a “Tê-lo” só nos streammings.
Já até publiquei uma tradução recitada dele, AQUI.
Já o elegi como trilha-sonora de trabalho de ao menos uns dois dos meus livros que vou lançar em edição dos meus 50 anos, é só ler lá nos Making-Ofs no final.