Esse livro de Denilson Monteiro consegue biografar Carlos Imperial com uma visão externa rara: desprovida de atração ou repulsa pelo biografado. A linguagem é quase jornalística, fria – o que para mim é uma vantagem, mas há pessoas que não gostam de tal abordagem.
Consegue fazer uma narrativa linear sem fazer saltos no tempo, o que nos força a ler o livro do início ao fim, sem ter muita graça ler uma ou outra parte, apenas.
Tem algo que eu adoro em biografias de artistas: relata fatos envolvendo todos os players do meio artístico, o que acaba conectando com outras biografias que leio.
Falemos sobre Imperial, o biografado:
– Extremamente competente e profissional, mas brigão e polêmico ao extremo, esse era Carlos Imperial. Cheguei a assisti-lo pela TV como jurado em um programa, ele sempre era o do contra;
– Sua última namorada pública era uma Amazonense de 14 anos, à época. Um dia espero encontrar essa senhora pra saber mais sobre aquele meio; – Aliás, tenho curiosidade em saber quem é essa nossa conterrânea, alguém sabe?
– Em qualquer programa que participava, ele sempre se gabou de ter elaborado o mito Roberto Carlos, mas, segundo o livro, ele saiu da vida de RC antes de sua grande virada, que foi o program Jovem Guarda;
– Aliás, deixou RC e foi montar seu concorrente, Ronnie Von, criando o “produto” para a mídia e compondo seu grande sucesso: A praça;
– Foi Imperial o criador da “Dee D. Jackson brasileira” – os com quase 40 vão lembrar: era aquela mulher que contava uma música de discoteque (em 1979) com um robô no palco, a “Automatic lover”.
– Na segunda metade dos anos 70 até 1980 teve um programa de auditório nos moldes do atual Faustão (na época, nos moldes do Bolinha e Chacrinha). E foi Imperial que lançou, neste seu programa – inicialmente na Tupi e depois no SBT: Dudu França, Patotinhas, Fábio Júnior, Miss Lene, Super Heróis e outros nomes que estouraram e sumiram. (Esse tópico escrevo baseado na minha memória, não no livro em tela);
– A foto da capa é um ato de campanha eleitoral, onde saiu em, São Paulo carregando uma cruz. É que, no rastro da comoção nacional causada pela morte de Tancredo Neves ele criou o “Partido Tancredista Brasileiro”, se lançando candidato;
– No meio dos anos 70 chegou a ser o maior empresário e produtor teatral do Rio de Janeiro, tendo mais de 300 atores sob contrato;
– O título do livro é uma alusão a seu bordão na apuração das notas das escolas de samba do Rio de Janeiro, era ele o locutor nos anos 80, e sempre que havia um 10 ele gritava: “Dez! (pausa) No-ta (pausa) dez!” (Estranhamento, no livro não está essa forma como ele gritava, sei porque lembro);
– Era um mestre em criar inimizades, plantando boatos nas suas colunas em jornais e revistas. Inclusive com conivência do difamado, às vezes – tudo isso para aumentar a popularidade de alguém, levou o “falem mal, mas falem de mim” às últimas consequências. Uma das suas se tornou clássica: encenou uma briga com Erasmo Carlos e postou as fotos da “briga” na revista Amiga, funcionou e ficaram algum tempo na mídia trocando “ofensas”. 🙂 Isso mostra que ele sabia manipular bem os formadores de opinião;
– Minha conclusão pessoal é que ele foi o mais próximo de uma versão masculina da Dercy Gonçalves. Nos deixou em 1992.