Por pelo menos seis motivos:
1 – A sequencia das faixas conta uma história – Acredite: existe um motivo quase místico na escolha da ordem das faixas. A música mais comercial e que estimule a escutar todo o resto vem sempre primeiro, claro. A segunda faixa ou e lenta ou termina de puxar o disco. A terceira faixa geralmente é a que o artista ou banda mais gosta. Nos discos de vinil, as músicas do “ldo B” são as menos comerciais. A última música sempre é a que destoa do ritmo de todo o disco ou a que a banda menos gostou. Nos discos de vinis, era escolhida pela duração, pra terminar de preencher um lado do disco tanto que, em não-raros casos, era até repetição de alguma faixa (reprise). Escolha de sequencia de faixa ou é tema de ávida discussão na banda ou é estratégia de marketing agressivo, entregue ao setor de A&R (Artista e Repertório) da gravadora. Sei bem disso porque, em 1996, minha banda gravou um CD que nunca foi lançado, o “Vanadium”, e eu gravei e lancei um CD em 2007 (o “As Cordas, Eu e o Nada”). E olha que nem estou falando nos CDs conceituais, onde a ordem importa para se entender a história e mensagem da obra;
2 – Se tem contato com aquele momento da história da banda – Quando s é fã de alguma banda, se percebe bem claramente a mudança de sonoridade de um disco para outro da mesma. Por vezes para melhor, por vezes para pior, a depender do gosto; essa coesão só se percebe escutando o CD inteiro. Aqui e ali surge um disco que sai da curva, mostrando um determinado momento isolado da banda, como o “Let it Be” dos Beatles;
3 – Se pode saber a sonoridade do estúdio em que foi gravada – O Abbey Road Studio tem uma sonoridade própria só dele, o Olympic Studio tem a dele, a Sun Records tem som próprio também – os detalhes proporcionados pelo CD (coisa que não existe em MP3), nos eixa perceber essa identidade do local onde foram gravados;
4 – Se dá mais atenção ao som – Como custam caro (tenho pagado nos CDs remasterizados entre 40 e 100 reais por cada um!), psicologicamente queremos fazer o gasto valer a pena e passamos a querer escutar faixa a faixa, já que aquilo tudo saiu do bolso mesmo. Nos iPods, como as faixas foram ripadas ou baixadas, apenas passamos, sem dar qualquer maior atenção, se os dez primeiros segundos não nos agradou (e sabemos que algumas músicas só acontecem depois de quase um minuto de faixa;
5 – Tem a capinha pra ler – Fazia tempo que eu não ficava lendo algo sobre o que estava escutando. paro no sinal e vejo as fotos, a ficha técnica, e o que contenha de informações sobre cada faixa. E alguns relançamentos recriam em miniatura o que continha o disco de vinil da época (um dia escrevo mais sobre isso). Show! Assim como o vinho toca os cinco sentidos (por isso se olha, balança a taça e se cheira o vinho antes de bebê-lo), escutar lendo as capinhas levam a música para outro sentidos além da audição;
6 – E, bem… o som é melhor! – Eu tentei resistir à essa constatação, mas o som do CD é melhor mesmo. Eu que tenho mais de 3000 CDs, mais de 200Gbs em MP3 posso afirmar bem. E passei os últimos 8 anos escutando só MP3 nos iPods da vida; agora, voltando aos CDs, percebo o quanto perdi de detalhes de muitas músicas. A ambiência, surround, dimensão, microerros estilísticos e mini-ecos do local onde foram gravados são detalhes que, simplesmente, se perdem nos arquivos MP3. uma curiosidade é que, recentemente, de tanto re-ouvir os CDs remasterizados dos Beatles, estou começando a reconhecer quais pistas de instrumentos foram gravados em primeira, segunda e terceira geração das fitas, nos overdubs. Com o CD podemos perceber quais instrumentos estão mais apagados (primeiros overdubs) e mais nítidos (instrumentos gravados por últimos). Já que, há 50 anos, não existiam gravadores com 16 pistas, só no máximo 4, o que forçava os produtores a irem pré-mixando pistas e jogando para uma pista, só (tornando estas imutáveis, por óbvio), e gravando os outros instrumentos por cima. Eu já sabia disso mas ainda não havia notado à audição, os CDs me deixaram perceber esses meandros;
Existe ainda um sétimo motivo mas só vingará daqui a tronta anos: assim como LP (vinil mesmo) está ressurgindo com algo cult, de colecionador, chique e para os puristas audiófilos endinheirados, não tenho dúvida que daqui há pouco os CDs se tornarão igualmente figuras de uma momento na história, e os re-ouviremos para lembrar de uma época em que ainda se ouvia CDs, ou até da época em que eles reinaram, a saber, entre 1988 e 2005.