Está aberta a temporada de recursos para os “provões” (terceira avaliação) que foram ou estão sendo realizados nas faculdades.
Sou sempre pinçado para dar pareceres em vários desses recursos de matérias de outros colegas (vez ou outra surge recurso das minhas disciplinas, também); ao longo desses anos tenho notado que basicamente, tais recursos se dividem em dois tipos:
O “Tipo-A”, ou recurso consciente.
Pode até nem ser provido, mas quem o ingressa acredita piamente que a questão continha erro de formulação de forma que, não adianta por onde se interpretasse, aquela letra do gabarito jamais poderia ter indício de resposta certa. Tal recurso vem com delimitação da divergência, motivo da divergência e, provando tal, consta lei, cópia do caderno, cópia de prova anterior do mesmo professor, cópia da página do livro utilizado na aula – enfim, algo objetivo que demonstre que deve ser provido mesmo. Já vi recursos tão bem escritos e fundamentados que duvidei até do meu próprio conhecimento acerca da questão que cobrei! E já aconteceu de eu ficar chateado de não ver razão em algum recurso tão bem escrito! É sério!
O “Tipo-B”, ou o recurso desesperado.
“Não importa do que, o importante é recorrer! Afinal, não vou reprovar, custe o que custar!”. E acaba sendo isso mesmo, um recurso, geralmente com formatação perfeita, mas que tem com conteúdo “a falta de acento”, “O erro gráfico na palavra mudou todo o sentido da questão”, “é muito subjetivo”, “depende do autor”, “isso nunca foi dado em sala”, “a prova começou tarde”, “estava calor na sala, prejudicando o raciocínio” e por aí vai. Vale qualquer coisa para não ter que entrar no mérito técnico da questão. Eu, que já vi de (quase) tudo na vida acadêmica, já fui procurado mais de uma vez por alunos, isolados ou em grupo, com questões outros professores para que eu “ajudasse a encontrar algum furo” para conseguirem recorrer de algo, acredita (se não fosse comigo, nem eu mesmo acreditaria!)
Tão quanto superficial é a quantidade de questões recorridas pela mesma pessoa, dessa forma, afinal, vai que cola… então, o remédio é sair recorrendo de tudo o que errou (recurso improvido não diminui nota mesmo, então….).
A diferença é que o “Tipo-A” é o que gera contra-arrazoados nos extremos, em termo de trabalho: ou é extremamente fácil a resposta de tal recurso, já que fica evidente erro grosseiro de conteúdo à primeira vista, não se conseguindo qualquer interpretação por mais que se force argumento, ou são difíceis pois, embora a resposta certa seja a do gabarito, o argumento apresentado no recurso foi lógico e convincente, não raro melhor até do que argumento de qualquer autor.
Um efeito colateral do recurso “Tipo-B” é que, além de gerar risadas (físicas ou mentais) em quem o lê, depois gera certa raiva por ter que se dar ao trabalho de responder àquilo.