Ainda bem que não tenho tido muitos “Zezinhos”.
No mundo do áudio, “Zezinho” é aquele ouvinte que põe defeito em tudo quanto é gravação: “O agudo está sibilando”, “está sem grave”, “o compressor está muito forte’ etc. Qualquer engenheiro de som ou produtor sabe que não pode gerar uma mixagem para os fãs, amigos ou família dos músicos: deve gerar algo para o “Zezinho”, pois se o “Zezinho” não encontrar defeitos, ou tiver muito trabalho para encontrá-los, é porque o trabalho está ótimo.
Não sei se foi de lá que migrou o conceito para aluno pernicioso, mas acho que foi.
“Zezinho” é o típico anti-aluno, alguém de má-fé travestido de discente:
- Pergunta para testar e questionar, jamais para aprender;
- De toda e qualquer forma, quer se auto-afirmar sobre o professor; então,
- Estuda especialmente para provar que o que é ensinado é “errado”;
- Se compraz em criar casos, pode atingir o clímax de satisfação quando coloca um professor contra o outro (lá por 2009, em uma sala, já houve ocasião onde um senhor disse para a sala “Ora gente, mas o Professor fulano não ensinou que era assim…?”) – e ver o circo pegar fogo de camarote, afinal, ele, o Zezinho, no estado-da-arte da perfeição, quer tudo perfeitinho em volta também;
- Como o “Zezinho” precisa de atenção (é um menino birrento maldoso), não vê problemas em afirmar para a turma que tal professor é chinfrim;
Já tive uns quatro Zezinhos na turma ao longo desses 11 anos, sempre me saí bem. Aprendi que:
- O “Zezinho” vive de atenção, então, quanto menos lhe for dado importância, melhor;
- A força do “Zezinho” está na instabilidade que ele possa causar, portanto, é o professor que decide qual força o “Zezinho” terá;
E, como escrevi no meu livro “Confissões de um professor universitário”:
- Antes da aula, basta imaginar que haverá dez “Zezinhos” na sala, e quando se adentra à sala.. só existe UM, fica tudo mais fácil;
- E basta pensar que, acabando o período, estaremos livre daquele “Zezinho”.
Ah, a forra sempre vem: é que como todos da sala já conhecem o mau-caráter do “Zezinho”, após a formatura não conseguirá ter parceria ou colaboração alguma, ao menos dentre os seus ex-colegas de sala – e isso eu já vi acontecer com um ex-aluno (“Zezinho”), anos atrás.