Não. Isso talvez nunca passe, para alguns

É lugar comum ouvirmos, sobre a pandemia “Isso vai passar!”.

Acredite: para quem perdeu alguém, isso nunca vai passar. Cada uma pessoa que perdeu a luta contra a Covid é a pessoa mais importanto na vida de alguém. E para esse alguém, que a perdeu, nunca passa.

Os dias, os momentos as histórias jamais serão como foram – tudo vai ser reinventado, logo, há uma vida antes e uma vida depois da perda.

Há umas duas décadas, falando com um companheiro de banda cujo pai havia morrido em um acidente, ele me disse: “Não sei o que é pior: perder alguém aos poucos, sabendo que ela vai morrer, ou perder de uma vez.”

A Covid trouxe uma terceira forma de perda: Não há a certeza (ainda que dissimulada) que haverá a morte, então, a esperança está presente; e não há a partida súbita, pois houve a doença fatal antes.

Não se prepara para a morte, mas se a sabe possível e, traiçoeiramente, ela chega depois da melhora.

Nem por acaso, quando falei com meu pai assim que ele seria intubado, apenas disse “Fique logo bom!”, e no telefone ele disse à minha mãe “Jajá eu volto”.

Então, pela peculiaridade de como tudo está sendo, não existe “Vai passar!”.

E, indo um pouco mas além… ouvi certa vez que não se deve dizer a alguém recém-enlutado “Seja forte!”, sendo até uma forma de violência inconsciente para quem vivencia a perda.

Da mesma forma, penso, se deve, ou deveria, ter alguma sensibilidade antes de afirmar: “Vai passar!”.

Não vai, para muitos.

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