Foi a primeira meia maratona do amazonas. Corrida parecida, só viajando pro sudeste ou proximidades.
Eu podia sentir um clima pesado, meio de medo, naquela largada, por detrás dos sorrisos havia a preocupação, acho que eu não era o único novel em meia maratona ali.
Largamos por volta das 17h, A subida ao lado do conjunto … era o primeiro desafio, Estávamos no início ainda. Tinha que ir bem devagar.
A subida da ponte foi o segundo, e a primeira a ser sentida.
Tudo estava bem sinalizando, a hidratação funcionando bem. Logo no meio da ponte era o retorno da corrida de 7km da Sejel, acho que metade ou pouco mais retornou ali..
O primeiro momento de relaxamento foi a decida da ponte. Foram uns 4 km até o retorno. Lá, já depois do 10Km, comecei a cansar um pouco, até então estava estabilizado.
Lá pelo Km 7 o asfalto estava em plano inclinado horizontalmente, o lado direito da coluna lombar começava a reclamar. Pior que não adiantava ir pro meio da via onde o asfalto era mais plano, pois a faixa de direita era para carros, e podia ser perigoso, só restava testar que nivelasse logo.
Feito o retorno ainda pude ver muitas pessoas ainda indo retornar.
Bem, a metade já passou, agora era só ir correndo devagar e sempre que uma hora a chegada surgiria.
A primeira alegria foi ver a ponte ao longe, surgindo por entre as árvores.
O problema era que não importasse o quanto corresse, a ponte não chegava e a visão dela continuava longe e longe, como que parada.
Já estava além do km 12, mais do que eu normalmente corro mesmo nos longões.
Foi quase uma hora até chegar à ponte.
Só a visão da subida já dava medo. Mas fui, sem variar nada no paço, para não sentir qualquer tranco, fui passo após passo. O som começava a incomodar; era a fadiga auditiva. Tentava só olhar pra frente.,
Vez em quando precisava esticar os braços, pois o ácido lático estava se acumulando e começava a doer os cotovelos, ombros, impulso, enfim, as articulações.
Foi legal passar no Km 15 e lembrar que eu acabara de cumprir ali uma São Silvestre. Restavam 6Lms ainda e perde-se a noção de proporção pois, se por um lado não é uma distância longa, por outro já começamos a estar pesados com o corpo emitindo sinais claros de cansaço.
Crescia muito a vontade de chegar logo ao ápice da ponte parra ter algum descanso com o plano e com a descida, mas tudo parecia parado em volta não importasse o quanto se corresse.
Cheguei ao plano do meio da ponte. Alívio! Era o Km 16.
Agora o racional começava a comandar tudo. Eu estava cansado, mas já estava no terço final. Nada mais restava a não ser ir e ir.
No km 18 começava o drama, era o meu recorde que eu havia chegado até hoje. Cada metro seguinte seria um caminho nunca trilhado por mim; e eu não sabia bem o que poderia acontecer.
No Km 19 tudo começou a piorar.
Minhas panturrilhas começaram a dar sinais que estavam extenuadas, eu sentia assadora na coxa, braços, peito e barriga; já estava desconfortável, eu torcia segundo a segundo par a chegada vir logo. Os ombros começavam a ficar duros. A perna não ia quando jogada pra frente, nem vinha quando puxada, eu estava já em briga comigo mesmo.
Pior foi ver que as pessoas começavam a passar por mim, aquelas que estava bem atrás de mim no retorno, era sinal de que eu estava no limite não ficaria mais rápido que isso. O lucro era chegar bem.
As Duas ladeiras depois da ponte pareciam barrancos de difíceis. Foi a pior parte do percurso, eu já queria apenas que aquilo acabasse logo. Eu estava quebrando, estava quebrando. Mas não! Não ia quebrar! Eu podia até cair morto ali, mas não pararia.
Entre na Avenida Brasil, o último desafio era subir na entrada do Palácio do Governo. Minhas pernas estavam duras.
Quando dei por mim notei que já havia passado pela chegada, É isso mesmo, nem comemorei, já tinha chegado e nem percebido. À minha frente já estavam as cadeiras da dispersão, onde devíamos tirar o chi pra receber a medalha.
Acabou. Acabou! Eu consegui! – Só agora eu percebia isso.
Agora tentava fazer força pra parar. O corpo quer continuar correndo por reflexo.
Sentei com tudo, quer dizer, despenquei sentado, na cadeira.
Minha panturrilha endureceu e uma dor lancinante atravessou minha perna. Comecei a gritar e a dor aumentava. Umas pessoas próximas olharam assustadas pra mim e eu esbocei um sorriso (sei lá como), pra não virar o mico da corrida. Foi assim quase um minuto. Até que começou a passar. Foram ainda uns três minutos parados até eu conseguir levantar. Essas chegavam da corrida ainda. Foi quando levantei e peguei a medalha.
A Edyranne Estava a minha espera. Só consegui abraça-la, dar-lhe um beijo e seguir para o meu carro, a uns cem metros após.
Conclusões:
– Eu não estava, definitivamente, pronto para essa corrida; o que tornou-a uma vitória ainda maior para mim;
– Tenho muito o que treinar para um dia ser maratonista;
– Tive a sorte e não parar perto da chegada, ou aquela câimbra teria me paralisado antes do fim;
Mais um ritual de passagem cumprido!