Foi o primeiro disco que escutei do Back Sabbath. Comprei-o em vinil em 1989 (a versão nacional tinha letras coloridas na capa, vai entender…). Eu já ouvira meus primos mais velhos falarem muito sobre a banda, mas nunca havia conhecido o som, nada.
Gostei (ainda que eu já tivesse colocado o disco predisposto a gostar mesmo). A obra é sombria, pistas gravadas abafadas, com som sem brilho, tudo meio gravão e soando como dentro de uma caixa enterrada. A voz do Ozzy, estridente, se destacava mesmo com o péssimo áudio, já que as curvas dos médios-agudos da voz saía cortante no autofalante. O som já era baixo, no vinil saía ainda mais sumido.
Nos anos 90 comprei o CD, na Bemol, o som melhorou, mas não muito, era só o disco de vinil sem o chiado de vinil, se é que me entende… Comprei-o agora em versão remasterizada na Saraiva, e é a primeira vez em mais de 20 anos que o escutarei de ponta a ponta inteiro.
Acho que o problema foi de gravação mesmo, já que nos discos de coletânea, todas as músicas do Master of Reality continuavam soando abafadas,
Eis que agora tenho aqui ao meu lado (estou escrevendo na cafeteria “Café do Ponto”) o exemplar remasterizado do Master of Reality, bem pesadinho, livro com páginas bem legais, daqui a pouco vou para o carro muito curioso para saber como está o áudio desse remaster – será que consertaram o abafamento e falta de definição do som? É bem verdade que pode simplesmente ser estilo de produção mesmo, já que foi gravado no Record Plant, estúdio de ponta naquela época (1971), logo, se tinha som abafado, só pode ter sido intencional mesmo…
Ouvi. Amigo: o som está surpreendentemente melhorado. Agora está surround, estéreo que nem aparecia na guitarra surge. O timbre continua abafado, mas alto, ou seja: era estilo de produção proposital mesmo, regulagem daquela forma para passar o ambiente da música, longe de ser defeito de gravação.
Sweat Leaf – O riff já nos faz querer escutar a música. Aliás, a música é cíclica, com os versos sobre o riff. Em uma das biografias consta que a tosse inicial é de Tommy após fumar um tarugo, aliás, bem, a julgar pelo título da música (“Folha Doce”), acho que ligamos as ideias…
After Forever -Aula sobre como se fazer introdução de música. Até entrar o riff, não se tem a mínima ideia do que vem, até a entrada triunfal do riff-tema. Começamos a notar que o baixo está com o som de baixão mesmo, Fender na sua melhor essência.
Embryo – É instrumental, mas não destoa do disco porque traz um clima sombrio-medieval para a obra, quase que servindo como de abertura (será que não era mesmo, e resolveram separa de última hora?) para a próxima música.
Children of the Grave – Ouvindo direitinho, dá pra ver que já consta aí todos os elementos daquilo que no futuro seria o trash-metal, o shred, grunge e heavy mental. O teclado bem colocado na ponte nos mostra como dar “momentum” na música sem precisar de um refrão.
Orchild – Uma pena ser tão curta. Parece música de igreja, meio Bach, só pode ser um sarro com a música que bem depois. Não sei se a intenção foi essa, mas essas duas músicas instrumentais mostram aos então lá novos fãs que o guitarrista pesado sabia tocar técnica e sensivelmente, para calar a boca de eventuais críticos.
Lord Of This World – Outra das frases satânicas da banda está nessa letra, com “Senhor desse mundo, diabo possessor!” (a outra frase, do disco anterior era “Meu nome é Lúcifer, por favor, tome minha mão!”, na música N.I.B). O fechamento dessa música é para mim uma aula de como mudar a melodia de base para marcar a saída da faixa, usei técnica parecida em uma das músicas do meu CD “As Cordas, Eu e o Nada”, de 2007.
Solitude – Rapaz, música de fossa pura, véi! Se você não está down, fica, ouvindo essa música. Pior que a letra fala disso mesmo. A voz de Ozzy é irreconhecível, sei lá o que ele pensou enquanto cantava…
Into the Void – Sei lá que ritmo é esse, um pesado meio cavalgado, com a quadra sobre o riff, como na primeira música, e uma marcante pausa antes do refrão, algo que só seria possível naquela época mesmo, hoje, onde a música é feita pra ser consumida rápido, não sei se haveria tal “pausa dramática” em alguma faixa.
Pois é, o disco é curtinho, pouco mais de meia hora, um tapa na cara da Noiantes, que tem 23 músicas no CD de estreia 🙂
Já li umas duas biografias do Back Sabbath, uma do Ozzy [resenhas AQUI e AQUI]e uma do Tommy, todos dizem o mesmo: era uma banda que não tinha consciência do próprio sucesso, então a gravadora se aproveitava disso, não lhes dando quase nenhum dinheiro, apenas comprando para eles o que eles pediam.
Ah, esse não é o disco que mais gosto do Sabbath. O que mais gosto é o “Vol. 4”, procurei-o na Saraiva, mas não tinha, buáááá…. Mas por tanto que esse “Master of Reality” é aclamado como sendo o mais isso e mais aquilo, gostei de ter sido o primeiro que escutei (e, agora reescutei) do Sabbath.
Muito legal tua resenha sobre o állbum.
Comprei em 84, em uma loja em Porto Alegre que mandava importar o LP, pois não tinha nas lojas no Brasil.
Desnecessário dizer que ouvia dia e noite por um bom tempo..