Neste livro de 504 páginas da Madras Editora, Joel McIver, amigo da banda Black Sabbath, conta a trajetória da mesma, tanto da vida pessoal dos integrantes quanto a parte dos negócios e questões técnicas de algumas gravações. Fui lendo aos pouquinhos nos últimos meses. É muito legal e ficamos perguntando como esses caras sobreviveram a tantas reviravoltas. Tommy (algumas vezes grafado como “Tony”) e Geezer eram os centrados, calmos e “cabeças pensantes”, mas Bill e Ozzy eram encapetadamente dominados por seus vícios destruidores. Essas são as impressões que destaco:
Metade do livro apenas é sobre o Black Sabbath (BS), a outra metade é sobre Ozzy. Aliás, o livro trata até mais detalhadamente da carreira de Ozzy do que o “Seu” próprio, o “Eu sou Ozzy!”, [já resenhado aqui no blog, clique.]
Algo que eu imaginava foi revelado aqui: o livro do Ozzy foi escrito por um “Ghost Writer”; tem nome e tudo: Chris Ayres. E escreveram material para uma futura biografia, que o próprio Ozzy diz que poderia se chamar “Eu ainda sou Ozzy!
Geezer Buttler travava briga quando ia gravar o baixo das músicas no primeiro disco: o engenheiro de gravação não permitia que ele colocasse distorção no baixo. Tommy era quem convencia o cara do estúdio que, quando ouvido em conjunto, o baixo ficavam com um novo som que harmonizava com o todo.
Nos primeiros shows não ganhavam um centavo: “Qualquer dinheiro que conseguíamos, usávamos para a gasolina da van, ou para comprar cordas de guitarra ou baquetas para a bateria.”
A gravação da primeira demo foi financiada por Tony; 500 libras, no Regent Sound Studios – e receberam catorze (14!) “nãos!” de gravadoras para prensar os discos.
O início da banda (que se chamaria inicialmente “Earth”) foi assim: Bill Ward e Tony foram procurar Ozzy para ser vocalista, depois, Ozzy e Geezer foram procurar Tony para ser guitarrista em suas bandas, sim, eram bandas diferentes, e resolveram unir.
No livro tem as duas versões para a origem do termo “Heavy Metal”: Uns dizem que Willian Burroughs, em 1961, em seu livro “The soft machine”, outros, que foi tirado da letra da “Born to be wild”, do SteppenWolf.
A banda tem raiva de advogados, pois tudo o que ganharam com a briga na justiça com o primeiro empresários deles, gastaram em honorários: “Oito mil foram pagos para nós no dia, do qual a assistência jurídica ficou com 6 mil. (…) Se você tem condições de pagar advogados – e de perder o que paga aos advogados, você consegue algo que se aproxima da justiça.”
Ardem, segundo empresário da banda (e pai de Sharon), fez a banda trabalhar feito louca à exaustão, quase os levando à estafa.
Sharon conta que saíam na briga física, ela e Ozzy. Conta ela que em um show do BS, Ozzy desceu do palco na hora do solo de guitarra, brigaram no braço e ele voltou ao palco para continuar a música.
A partir de 1983 a história do Sabbath fica chata e se perde, de tanto entra-e-sai de tanta gente na banda, parece que nem o autor deu muita trela para a história da banda nesse período. Dando ênfase apenas à fase Dio. O próprio autor passa a impressão de estar apenas “jogando informação”. Nem a propósito, a partir de 1983 o foco deixa de ser o BS e passa a ser a vida de Ozzy, descendo a minúcias que nem no “Eu sou Ozzy!” haviam. Aliás, tenho um post [AQUI, clique] sobre as teorias de formações de bandas.
Algo muito curioso está na página 271: eles contam que o presidente da Varig (é, a Varig!) estava na Rússia, quis conhecer a banda e lhes ofereceu voos de graça para irem à Rússia, quando quisessem. (Se isso for verdade, tais cortesias explicam porque a companhia quebraria depois…).
Em 1992 Ozzy foi diagnosticado com esclerose múltipla, por isso anunciou que se aposentaria naquele ano – depois foi descoberto que o diagnóstico era falho, por isso Ozzu revogou a aposentadoria.
Olha essa citação que, para mim, resume a loucura do Ozzy (pg. 371): “Em 1971 fiquei louco e pulei da janela… uma vez que comprei meio quilo de maconha, quatro tabletes de mescalina, um quarto de uma onça de cocaína e uma garrafa de tequila, e fiquei fora do ar durante uma semana. Comecei a conversar com cavalos, e a coisa mais estranha foi que eles respondiam para mim”.
Sharon conta que perdeu os 10 milhões de dólares ganhos com o reality show da MTV com advogados, pois várias pessoas que apareceram nos episódios resolveram processar a família.
A morte de Dio, em maio de 2010 é contada em detalhes desde o seu diagnóstico de câncer. No dia de sua morte “de 25 a 30 amigos estavam no hospital, e todos foram se despedir dele um a um”.
Em 2011, Ozzy começa, segundo ele, a sofrer perda da memória de curto prazo. E o livro termina com o planejamento do recente CD lançado pela banda.
Dentre as frases muito legais do livro, está a da última página: (Bill) “Independentemente do fato de que fomos enganados, todo o nosso estilo de vida melhorou em torno de 5 mil vezes mais do que eles já conseguiram. Temos carros, temos casas, podemos sair e tomar a cerveja que quisermos e podemos comprar nosso próprio maço de cigarros, em vez de um maço para nós quatro”.