Estranhamente, não vejo menção na imprensa sobre a comemoração dos 20 anos da internet comercial no Brasil.
Um dos meus orgulhos pessoais escondidos é ter sido parte do primeiro grupo que teve acesso a tudo isso, ao menos na sua fase comercial (já que desde 1993, em algumas universidades brasileiras, já se usava a internet de forma experimental e para pesquisa). Tudo isso lá naquele longínquo 1995.
Desde 1992 se falava em uma tal de “internet” ,mas era uma daqueles temas que transitavam entre algo de universitários, micreiros fanáticos, militares ou, quando muito, empresas. Toda a semana havia alguma notícia sobre a “internet”. Não sabíamos para o que servia ou que fazia mas sabíamos que era algo legal e que estava sendo implantada no mundo todo.
Em 1995 houve uma feira de tecnologia, no Sesi.
Em uma das barracas, da SCAM (Serviço de Comunicação da Amazônia, uma empresa da rede Amazônica, gerenciada pelo Mark e sediada na André Araújo, no prédio que ficava ao lado do Studio 5), vendia-se contas de internet. Foi a primeira empresa a vender comercialmente para o público em geral o acesso à rede. O estande da SCAM nem estava muito cheio ou procurado, já que o máximo de teconologia que empolgava na época ainda era o recentíssimo celular, de preferência com um aparelho da Motorola – internet era pra brincar, somente.
Preenchíamos o formulário e levávamos o envelopinho com o kit de instalação, assumindo o compromisso de pagar algo mensalmente, algo como se fosse uns 60 reais hoje. Lembro de no outro dia eu estar todo sorridente em casa “contratei uma conta de internet!”.
O modem mais vendido e recomendado era o U.S. Robotics. Precisávamos abrir o computador pra instalar no slot, depois instalar o drive (que vinha em um disquete também) e torcer – tínhamos que torcer mesmo – para funcionar direitinho, os mais pregos pagavam caro só para um técnico fazer tudo isso. Havia modem externo, com a vantagem de não precisar abrir e instalar nada no micro, mas se precisava de uma tomada e o trambolho de um cabo serial ou paralelo (parecido com o que usávamos para as impressoras, com os conectores de agulhinhas).
Instalado e testado o modem (geralmente com velocidade de 4,77 ou 56kbps/s), ligávamo-lo à linha telefônica – em tese, tudo pronto para o acesso – Ah, em sendo uma placa PCMCIA, instalava-mos no slot. Lixo reservado a pouco era , caso se tivesse um notebook (chamados naquela época de laptop), ter um modem-cartão fininho que se encaixava em um slot do laptop.
Eram dois disquetes de alta densidade, 2,44hd, instaláveis no PC. Um era o operador da conta, o outro, o navegador.
Tudo instalado, surgia um discador na tela, o número de telefone já estava pré-cadastrado, havia a ligação por pulso mesmo, ouvíamos um chiado bem alto, chamado “handshake” – se a conexão estivesse ótima, não durava nem cinco segundos, se a conexão fosse ruim, demorava quase meio minuto, e ocorria de simplesmente não conectava.
Eram só três serviços: e-Mail, troca de mensagem entre quem estivesse online (um resquício das antigas BBSs) e World Wide Web; era uma tela branca com três ícones, estivo windows 3.1.
Vinha um navegador, o Internet Explorer ou outro tido como melhor: o Netscape. Digitávamos a página e três minutos depois, ela surgia!
Aliás, foi a WWW que fez a internet evoluir, pouco a pouco se tornando o estágio em que está.
Como não havia especialista em internet, e todos em volta achavam que podíamos fazer qualquer coisa com internet embora, naquela época, fosse apenas uma inutilidade-chick.
Depois veio a Argo e a Internext.
A partir daí começaram a existir outras operadoras de internet.
As maiores páginas de busca eram o Yahoo! e a o Altavista, e em 1996 surgiam os primeiros sites (chamávamos ainda homepages, somente) agregados de serviços: Universo Online e BrasilOnline, da Folha e Abril. Foram esses dois serviços que fizeram a internet se popularizar, mormente pelas propagandas que faziam constar em revistas e TV. As pessoas continuavam sem saber claramente o que fazia ou para o que servia a internet, mas todos passaram a querer ter uma conta dela.
Havia até revista com todos os endereços de internet do país, verdadeiros “guias” com os endereços organizados por interesses. O serviço de ftp, para transmissão de arquivos, já existia, mas não usávamos, aliás, nunca pegou perante o grande público.