Era algo novo, assustador.
Sentíamos medo e gostávamos disso.
Som diferente, rápido, sujo, voz arrotada, maldade, fúria e áurea demoníaca.
O fato de vir de longe só aumentava a mística.
Some-se a isso as histórias (verdadeiras ou não) já contadas e espalhadas de um cara que comia morcego, uma banda que pisava em pintinhos (e quebrava guitarras e cuspia sangue, e olha que nem estou me referindo a supostos pactos demoníacos).
Visual cuidadosamente sujo com cabelos grandes e caras diabólicas. Era um passo além Beatles-Rollings Stones.
Era a mistura perfeita.
Tudo já regado a antigas histórias de tantos roqueiros que morreram de overdose e outros excessos.
E como se não bastasse, estávamos saindo da infância. Mal largávamos a inocência e já éramos apresentados àquilo tudo. Como não ficar fã?
Ter vindo o Rock in Rio naquele 1985 nos mostrava que não estávamos sós, tinha outros tantos milhares aficionados naquele fogo todo.
Então, o modo como nos chegou o rock pesado (ou rock pauleira, metal pesado, heavy metal, tocado por metaleiros) nos imprimiu a alma.
É por isso que os roqueiros de 50 anos continuam a serem roqueiros, mesmo com 50 anos, é uma (talvez a única) forma de se manter a alma jovem, como no começo de tudo.