Desde que comecei a tocar por dinheiro, sempre tive medo de ser o “músico-ambiente” anônimo., invisível, quase inexistente, não fosse por estar emitindo sons.
É aquele músico, ou banda, que toca maravilhosamente bem, canta de forma perfeita, mas fica lá naquele canto… ou naquele palco… do restaurante, bar ou coisa que o valha, totalmente anônimo, sem identidade; como que fosse um aparelho de som, só que humano. As pessoas escutam uma música, sabe que é ao vivo, mas não sabem quem e, ao sair de lá, sequer vão lembrar quem era o músico.
Então, quando e se um dia voltar à ativa como músico, detestarei ser aquele que:
- Ninguém sabe quem é;
- Ninguém foi ao local especificamente para escutá-lo; e
- Se possível, para alguns, o ideal é que nem estivesse lá “fazendo barulho” e atrapalhando a conversa.
Lembro que, certa vez, assisti a um DVD de uma cantora amazonense, gostei muito. Uns dias depois, fui em um lugar jantar, era o Empório Roma, e aquela mesma artista estava lá – aquela mesma do DVD – mas fazia “música ambiente”. EU a conhecia, porque havia assistido ao DVD uns cinco dias antes, mas as pessoas em volta só conversavam e ignoravam aquele som (diga-se de passagem, só covers! A música dela mesmo, uma ao menos do que ouvi no DVD, não tocou, ao menos enquanto eu estive lá).
Sempre achei que, se fosse para fazer som ambiente, melhor seria deixar o CD tocando – é assim que penso como músico. E receber dinheiro para tocar “pra ninguém” é ser pago para se anular.
Uma vez toquei assim, para nunca mais. Foi em um dos dois shows que fiz para promover meu CD “As Cordas, Eu e o Nada” (2007), foi no salão de festas do Central Park, no Adrianópolis. Fui contratado para tocar em um restaurante – eu disse logo na contratação; “Só toco as minhas músicas”. E assim foi.
Toquei as 16 músicas do CD naquela festa, com um Banner atrás de mim com a capa do CD e tudo.
Mas eu, desconhecido como artista solo, tocando em uma festa de aniversário (as pessoas estavam lá para celebrar com o aniversariante), não consegui a atenção de ninguém (só da minha namorada na época, a Priscila, que foi comigo).
Fui, por um dia, o músico que nunca quis ser, e espero nunca mais ser novamente.
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