No último sábado, saí do trabalho e fui na Riff´s, uma loja de música que fica na Djalma Batista (ao lado do viaduto com a Darcy Vargas), fui lá pra comprar o CD da Ctrl+Z; banda do meu amigão das antigas e ex-parceiro de composições Lessandro Alencar. A julgar pela competência com que compõe (escrevemos “Marcinha Rock and Roll” e mais uma duas), eu já sabia que escutaria coisa boa, sem nem haver comprado o CD ainda.
Só pelo simples fato da Ctrl+Z não se contentar em ser só mais uma banda de cover como existem às dúzias aqui em Manaus, já merece o meu respeito e cada centavo pago pelo CD.
A apresentação física da obra é simples e sem frescuras: destaque para a foto da contracapa onde figura uma maravilhosa Gibson Les Paul cor orange sunburst (ou é uma Epiphone, não vi a marca), a banda está descontraída – um está introspecto, outro integrante está na personagem da terceira música e o Lessandro com a Les Paul. Não há dados técnicos ou créditos do estúdio, gravação, mixagem, masterização, produção etc; mas, que venha o som.
O Pioneer começou a gritar o disco.
A primeira música é “Nuclear”, uma viagem chapante que faz o disco ser apresentado devagar. É legal como primeira faixa se o audiófilo escutar o CD inteiro (como eu faço, já que o escuto no carro), mas, como música isolada, tem os dois minutos iniciais arrastados, que podem fazer o ouvinte pensar que banda é “só aquilo” – mas do meio para o fim da música ela ganha corpo e nos convence. Na pior das hipóteses – eu não sei se era essa a intenção da banda – apresenta o instrumental da Ctrl+Z, que é de primeira linha.
Na segunda música é que a banda diz ao que vem, com swing e refrão pegajoso, “Superboy” consegue nos convencer a escutar o resto do CD, que não decepciona. O wah-wah usado na guitarra alçou ao estado da arte. É o melhor timbre de bateria do disco.
A terceira música, “A meia-noite vai chover” está no lugar errado, não só deveria ser a primeira do CD como deveria estar frequentando a liderança das mais tocadas nas rádios, a música é muito legal, man! É o momento pop da banda. Eu já a passei para o iPod e a escuto na esteira da academia. É rockão de primeira! Tudo está encaixado: a batida da bateria com o baixo que conseguiu misturar dançante com marcação dos primeiros temos, e a guitarra… parece que pegaram um daqueles roqueiros experientíssimos dos anos 70 e mandaram o cara fazer o que soubesse de melhor. Sem dúvida, é a melhor música do disco, cara de FM e já ‘a primeira audição a vontade é dar replay 20 vezes na faixa. É a única música em que pude ouvir a voz do meu brother Lessandro, e no coro do refrão.
A próxima música me deu uma certeza que eu começei a construir desde 2009. Naquele ano, escutei a música “Acid Queen” do The Who, com letra de Pete Townshend, são palavras de uma mulher para um homem; agora, escutando “Hã!”, a terceira música do CD da Ctrl+Z, vejo que também se trata de palavras de uma mulher dirigida a um homem, e a certeza se confirmou: Quando um letrista homem resolve escrever sobre palavras femininas para seu consorte, o faz melhor do que qualquer mulher poderia fazê-lo! “Hã!” tem uma letra genial e tão direta que aparentemente soa grosseira, mas depois do primeiro minuto a sinceridade da personagem da letra vem à tona e passamos a nos tornar cúmplice dela. Ao final da música (ela tem final aberto), ficamos nos perguntando, afinal, se a personagem da letra é uma prostituta, a amante do cara, a namorada ou a outra. Ah, de quebra, essa música tem o melhor timbre de guitarra e melhor equalização do vocal de todo o disco.
“Adeus” é um blueszão de ritmo marcado. A princípio é um blues de 12 compassos, com base como quinhentos outros, mas o refrão fez toda a diferença, chegando a ter efeito retroativo dentro da própria música – após o refrão “mais alto que o céu/e mais quente que o sol…”, se passa a gostar da música inteira ab initio.
A sexta música, “Tucuman”, é uma prova de que a banda está, se quiser, pronta para sair de Manaus e ir para as paradas Brasileiras, pois consegue algo difícil: mesclar blues, reggae e música regional amazônica, certamente, seria foco de curiosidade de qualquer ouvinte de outros estados. O letrista brinca com o título da música encaixando-o nas mais diversas ideias; genial. É um reggae que inicia só com guitarra e vocal. Assim com a primeira música, começa devagar e vai nos envolvendo minuto a minuto.
A “O outro lado do pesadelo”, para mim, é a mais complexa do disco, ao menos quanto ao instrumental, cheia de acordes dissonantes. A mão direita do guitarrista tem um swing que lembra Jorge Benjor quanto ao balanço.
A música que fecha o disco, “Noel”, é um improvável, impagável e fantástico diálogo do autor com… Papai Noel (que foi encontrado em um bar de Manaus)! – à primeira audição você acha curiosa a letra, na segunda audição você não consegue conter o riso. O timing e tino do letrista estão cirúrgicos, conseguindo encaixar frustrações diárias nossas projetadas na vida do velhinho. O contra-baixo nessa faixa está com a melhor equalização de todo o disco. Um efeito colateral de escutar essa música é que ficamos com o início da letra grudado no ouvido um dia inteiro: “Noeeeeel…”
– Tive a impressão de que algumas músicas foram gravadas em “take one”, ao vivo no estúdio;
– Vi no youtube que a banda tem mais músicas, que não estão no CD;
– É um daqueles discos que quando se termina de escutar dá vontade de dizer “Puta que pariu! Que disco do caralho, véi!”
Recomendo pra caramba.
É uma banda mt foda cara!