´Making Of´ do CD “As Cordas, Eu e o nada” (2007) – Cap.III – A gravação

Julho de 2007. As 16 músicas estavam compostas e arranjadas.

A primeira questão era: Qual estúdio escolher?  Já havia mais opções estúdio do que na minha época de roqueiro dos anos 90 A informatização permitiu que várias pessoas, sem muito capital, montasse um estúdio.

Inicialmente eu cogitei gravar no Dance Mix, estive lá, gravei uma demo, meio improvisado o trabalho (para uma demo, serviu), mas já deu pra eu ver como a música soaria depois de gravada. Decidi que não ia gravar lá.

Mas valeu à pena por eu ter conhecido o Tubarão, que faz trabalho gráfico, peguei o contato dele pra depois de algum tempo contrata-lo pra fazer a capa do CD.

Fui pro google e digitei “Estúdio Gravação Manaus”, E  logo me apareceu o site de um estúdio MD12 . O site era bem legal, com boas fotos, boa apresentação. Peguei o telefone e fiz o contato, fui atendido por um senhor de voz impática, o Mauro (O “M”do MD).  Marquei uma visita lá no estúdio.

Fui lá no estúdio, muito bem montado, todo digital O engenheiro de gravação é o filho dele, o Diego “O “D”do MD). Nunca perguntei de onde vinha o “12”. O Diego fala muito pouco, a primeira vista parece ser mal-humorado, mas o que ele tinha de calado tinha de competente.

A primeira grande diferença do estúdio digital onde gravei para os estúdio clássicos é que o centro dos estúdio convencionais é uma mesa de som; antigamente, quanto maior a mesa, mais poder o estúdio demonstra. Já no estúdio digital a “mesa de som” é um teclado e um mouse! E os e efeitos não estavam nos rack que pareciam geladeiras como estamos acostumados a ver na tv, eram apenas programas do próprio computador, “plug-ins”, como chamamos.

 

Inicialmente eu gravei uma demo, só com voz e violão, com as músicas, pra ver a sonoridade do estúdio Soou beeeeem melhor que o do estúdio Dance Mix, além do Diego ter sido bem mais atencioso na preparação do que o DJ do Dance Mix.

Era lá mesmo que eu iria gravar.

A primeira providência a fazer, antes mesmo do estúdio, é gravar o metrônomo com a voz-guia. Isso podia ser feito no estúdio, mas como o “taxímetro” estava contando, fiz em casa, com um gravador digital de bolso, um Olympus WS-100 – no estúdio foi só passar para uma das pistas. Seria a pista-guia.

Foram ao todo oito sessões gravação. Todas se deram ou de noite, depois das dez, quando eu saía das faculdades onde eu ministrava aula, ou de manhã.

Inicialmente gravei os violões de nylon, usando o DiGiorgio que eu comprara mês antes na Bemol. A cada pausa o Diego me pedia pra checar a afinação. É, era um saco, mas uma medida necessária. Já do meio pro fim ele já nem pedia mais, eu checava sozinho.

Quando tocamos ao vivo só afinamos o instrumento uma vez. Mas o estúdio é um ambiente de precisão: basta um coma[1] de desafinação para ser percebido na gravação, num show ao vivo passa despercebido, mas no CD…

Depois gravei os violões aço. Usei um Gianinni, que comprei no centro. O som dele é simplesmente maravilhoso! Foi realmente um achado! E olha que eu já tive um violão folk da Fender, modelo Del Mar, e o som dele não chegava nem aos pés do Gianinni.

A próxima sessão foi para gravar os violinos. Somente em duas músicas: “Silêncio” e “Eternidade”. Nesta última era mais fácil: Só duas notas. Gravei rapidinho. A bomba foi gravar o violino de “Silêncio”. Quatro notas! Para um violinista seria nada, mas pra mim, que nunca tinha tocado violino antes, era um longo caminho, e foi mesmo, errei bastante, até conseguir uma sequência realmente boa.

Resumindo: gravei três violões: Um de nylon, um de aço fazendo a base e um de aço fazendo o solo, arpeggios estratégicos e “comentário” – por último gravei o violino, em duas músicas. Toda a base foi feita com cordas, por isso que o título do CD é “As cordas, eu e o nada”.

A gravação do vocal é complicada. Levei pro estúdio 8 garrafas de água, e a cada pausa eu tomava uns goles. Tinha que manter a garganta úmida, senão morria de amigdalite no outro dia.

Eu canto sem técnica alguma; ora, Bob Dylan e Jimmy Hendryx já mostraram ao mundo que não precisa ter voz bonita pra cantar e, como li no orkut, de vozes bonitas os corais já estão cheios. O importante pra mim é cantar afinado e no tempo. Timbre é timbre, é só meu, quem gostar que imite, que não gostar que critique, mas que todos ouçam…

Três vozes: a principal, uma grave e uma aguda. Sempre que possível, em notas diferentes para gerar harmonia, fugindo do uníssono.

Começava uma etapa chamada de mixagem. É nela que realmente o som “nasce”. Os sons são reunidos, equalizados os timbres, inseridos os efeitos, regulados os volumes. Uma mixagem perfeita não faz milagres em música mal gravada, mas música bem gravada pode ser arruinada por uma mixagem ruim. O Diego já me provara que sabe fazer um ótimo trabalho de gravação.  Faltava eu ver como ficaria o trabalho mixado.

Foram 10 dias longos, onde eu não apareci no estúdio. A mixagem é um trabalho solitário do engenheiro de som e, quando muito, do produtor. Sem ninguém para interferir. Muitas opiniões atrapalham nessa primeira etapa da mixagem.

Voltei ao estúdio para ouvir o primeiro resultado do “mostro” que eu criara. Fiquei petrificado, estava realmente MUITO BOM! Duvidei que aqueles sons de cordas lindos foram gravados por mim, minha voz estava perfeita. Enfim, era um som que, se eu visse me uma loja, procuraria o CD para comprar. O Diego mostrou que sabe mixar, e eu estava tranquilo. Foram só mais alguns ajustes, e todos decorrentes de meu gosto pessoal, não de imperfeições do som.

Os violinos foram diminuídos. Uns trechos de umas músicas receberam ecos nas cordas, pra que tapassem um buraco sonoro que eu tinha deixado a o gravar. Alguns trechos de vozes tiveram o som dobrado, para que desse a impressão de que havia mais de um vocal na mesma frase. O final das músicas receberam os fades que é o efeito onde a música vai baixando até zerar o volume, no final,

Oito dias – durante a tarde e noite – foi o que durou a fase de gravação. Dez dias para a mixagem.

Mais sobre a produção do CD pode ser lido AQUI.

capa_cd

[1] “coma” é a menor divisão conhecida entre dois tons, equivale a 1/8 do tom. Assim, entre um dó e um ré existem 8 comas. Um semi-tom tem 4 comas de divisão.

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