Era sábado, 28 de maio de 2016. Eu deixara em cima da mesa da sala de jantar da casa dos meus pais um exemplar do CD “Não Tenha Medo do Caos!” da Noiantes, havia acabado de sair da fábrica.
Estava longe do meu pai Antônio, na biblioteca, apontei para o CD e disse: “Esse é o CD da minha banda”.
Ele não disse nada, só pegou, olhou a capa e deu um sorriso.
Mas nem dois segundo se passaram, ele chamou a minha mãe e andou rápido para a sala de som – igual como eu fazia há 30 anos, quando chegava em casa com um disco dos Beatles que ainda não havia escutado.
Fui para mais longe (para a sala), fiz questão de não ver a reação inicial que teriam ao escutar o som (a primeira música é “Brasileiro 2015”); fiquei lendo um livro-biografia dos Ramones.
O som da música estava alto, envolveu tudo, como um P.A. de show. Eu não escutava aquilo tão alto desde a sessão de audição de mixagem do disco. “Uau! Essas semanas me fez esquecer o quanto isso soa bem! Fizemos um ótimo trabalho!” eu pensei na hora.
Passei em frente a sala de som, lá eles estavam.
Nesse momento pensei o óbvio: vou fotografar essa cena. Cheguei a tirar o celular do bolso.
Mas aí parei: NÂO! É melhor viver isso aqui do que fotografar, assim terei um motivo a mais para não esquecer isso aqui.
Foi o melhor que eu pude fazer. Ficou grafado (de “graFia” mesmo) em cada neurônio meu meus pais na sala de som, minha mãe sentada olhando para o aparelho de som, meu pai com a capa do CD lendo cada palavra e vendo cada figura minuciosamente.
Eu ainda posso sentir a temperatura e luminosidade do local, o som ecoando pelas paredes, um cachorro latindo lá fora, a gata passando embaixo da mesa…, quando os avistei tocava a faixa “Até Tarde”.
Fiquei feliz pelas Forças do Universo haverem permitido que eles estejam vivos e felizes, e interessados o bastante para escutarem o CD da minha banda de rock (cogitei esse disco há 23 anos, demorou um pouquinho, portanto…).
E o melhor de eu não haver fotografado é que não me ficou só a imagem, ficou a cena, com imagem e movimento, pensamento e emoção; melhor do que qualquer fotografia; – um daqueles momentos que as décadas não modificam ou levam e ainda contamos aos nossos netos. É por isso que esse post não tem imagem gráfica; não precisa.
Show!
Coda: No outro dia em que os encontrei, cada um me disse que gostou muito do CD. Yesssssss!
É gratificante saber que as pessoas gostam do nosso trabalho!
Principalmente nossos pais , pois sentimos necessidade de mostrar à eles primeiro do que qualquer outra pessoa.
nos faz sentir muito bem, principalmente quando eles gostam .
“Pai e mãe, ouro de mina… diz a letra da música de Djavan. Eles são tudo!