A Corrida de São Silvestre

É o ritual de passagem de todo corredor. O batismo de fogo.

Corri a São Silvestre de 2010. Minha próxima meta é a meia maratona, agora, em 2012.

Passo a contar agora como foi minha São Silvestre de 2010, antes de eu ir para a empreitada, li vários relatos de quem correu; então, agora devolvo ao universo o que recebi, e também poblico o meu relato para que futuros corredores da São Silvestre se sintam menos apreensivos.

Feliz 2012 a todos os meus queridos blogespectadores!

. . .

Era duas da tarde. Hora de ir.
Coloquei a mochila de hidratação e os eletrônicos na mochila e desci.
Perguntei dos seguranças como chegar a pé na Paulista e fui.
Era a hora de ir pra concentração.
Testei o iPod: funcionando tranquilo.
Nem teve contagem regressiva nem nada, se teve, não ouvimos.
De repente eu vejo a galera começando a correr e entendi que era a largada. Fui.
Era importante ficar sempre em linha reta, pois no pelotão geral haviam corredores que foram ziguezagueando e qualquer movimento de um centímetro pro lado que fosse já esbarraria em um desses apressados/desesperados.
Sim, vem uma galera pra cima mesmo, mas é só seguir reto e manter o caminho sem variação, milimetricamente reto, que não tem problema, quem tá vindo de trás é que encontra as brechas pra desviar.
As pessoas nos lados não param de dar força, ficam fotografando os fantasiados e ficam estendendo as mãos pra darmos tapinhas.
Tinha água a vontade, o problema é que tomam a água e jogam o copo. Quando jogam pra baixo tudo bem, o problema é quando jogam pro lado ou pra cima, tem que ter cuidado.
Os corredores tomavam isotônicos e jogavam o resto no chão, aquilo se tornava grudento no asfalto, de forma que nosso tênis gruda ao passarmos nessas manchas, precisamos ter força extra na perna para soltarmos a sola do chão passada após passada.
Alguns moradores do lado do trajeto tem a ideia “inteligente” de ficar com a mangueira esguinchando água nos corredores, ainda bem que a água só vai até metade da rua, dá pra desviar (lembrando que a cada desvio o cotovelo esbarra em alguém, aliás dei mais de 20 cotoveladas em quem vinha cortando de trás, problema deles).
Eu devia estar meio lento, pois todos estavam passando por mim, vi que o pessoal de Manaus devia estar lá atrás, pois não os vi passando. Aqui e ali eu passava alguém.
Quando ficava cansado pensava “Puta que pariu! Eu estou na São Silvestre, véio!”, e um sorriso aparecia, o medo e o cansaço sumiam, eu estava emocionado de estar lá.
Sim, tinham subidas, mas ao todo eu contei mais descidas do que subidas, ou as descidas eram mais íngremes que as subidas. A cada uma dessas descidas eu via a frente a multidão de gente, era um mar de pessoas mesmo.
A impressão que se tem é que elas estão paradas e não vão nos deixar passar, mera ilusão de ótica, bom sinal, sinal de que estamos correndo na mesma velocidade da Galera.
Tinha umas quatro câmeras de televisão em gruas. A cada uma eu passava em embaixo/na frente dando tchauzinho, e acenava também pra umas câmeras que ficavam paradas no meio do trajeto.
A primeira marcação foi de cinco quilômetros, a impressão que tive era de que eu nem começara a correr e já estava no primeiro terço da prova! Legal! Era só manter o ritmo e continuar assim!
A mochila de hidratação ajudava muito, não pra matar a sede, mas pra molhar a boca quando ficava seca.
Num dos pontos de água, alguém atirou um copo meio cheio no meu pé, senti a água gelada pra dentro do tênis, um problema, pois podia gerar bolhas (gerou, como percebi depois).
Pra pegar água era meio complicado, pois precisamos ir pras bordas e é muito fácil atropelar alguém que vem ultrapassando, outro desafio é pegar tão rápido o copo que não pare o ritmo, consegui isso; bem, quase não consigo em um dos locais de água, pois um cara travou na minha frente, mas como fui rápido e desviei de uma vez, não parei.
Aliás isso seria uma vitória: Correr toda a São Silvestre sem parar e sem andar; eu tinha lido que isso seria impossível caso se largasse no pelotão geral, mas consegui largar já correndo, acho que foi essa (apenas essa!) a vantagem de pagar tão caro pra sair na frente do pelotão geral.
Lá pelas tantas ouvi “Battery Low” no ipad, pensei “Foda-se, já estou quase no fim mesmo!”
Meu joelho deu sinal de que iria doer, decidi que nem que o menisco explodisse eu correria! Mas misteriosamente a dor parou depois, ou o problema desapareceu ou simplesmente a adrenalina me anestesiou.
Á frente estava a temida subida.
Fui tranquilo, seguindo a batida da música. Meu calcanhar tinha algo, ardia e doía de vez em quando. Àquela altura, fosse o que fosse eu não pararia mais.
Engraçado que eu não estava nem um pouco cansado, nem ofegante, estava tranquilo e bem poderia correr mais um percurso daquele na boa.
O tempo passava,  percebi que eu já estava correndo a algum tempo naquela ladeira e nada dela acabar.
Quase no fim da subida tinha uma placa indicando que estávamos no quilômetro 14. “14? Já?” As pessoas em volta da placa faziam o sinal “1” com o dedo, nos dando força gritando que faltava apenas um quilômetro.
Não vi ninguém morrendo na ladeira. Ou tudo o que eu li estava exagerado ou esse ano a galera treinou mais.
Fiquei na maior alegria quando terminou a ladeira. Era aquilo que era a subida tão temida?
Outra alegria muito grande foi quando passamos na curva pra Avenida Paulista, era uma gritaria geral! Agora o terreno era plano e já estávamos perto da chegada, já podia sentir o sonho se realizando! E me pareceu tão fácil!
Desliguei o som, queria escutar o som das pessoas gritando, aplaudindo, dando força e acenando.
Passei no portão de chegada. Na minha contagem havia passado 1h47min36segs.
Eu estava muito feliz!
Missão cumprida!

Epílogo:

Menos de duas horas depois da chegada, eu já estava no aeroporto, queria chegar aqui em Manaus ainda para o reveillon. Consegui, cheguei 23:55.

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