Lá se vão 30 anos. O Kiss explodiu no Brasil em 1983. Com direito a Especial da Globo e tudo.
Lembro como hoje da invasão midiatica do Kiss, onde em vários programas de televisão se assistia imitadores da banda. Até no Show de Calouros do Silvio Santos vi imitadores do Kiss sendo julgados por aqueles jurados peculiares (imagine Sérgio Mallandro e Pedro de Lara julgando o “Kiss” e, verdade se diga, a Aracy de Almeida não tocou a campainha!). No programa do Chacrinha, os imitadores usaram botas de quase dois palmos de altura, e umas perucas toscas de cabelo liso até a cintura. Até em um programa verpertino-domincal da Globo, o “Cometa-Loucura”, apareceu banda imitando o Kiss.
Meu irmão ganhou de aniversário, naquele ano, um LP, o “Sucessos da Rádio Manchete”, cuja primeira música era o hino do Kiss naquele ano: “I Love It Loud”. Tínhamos um tarol, comprado para ser usado na fanfarra do colégio (Ida Nelson), toquei aquela introdução da “I Love It Loud” em casa até quebrar uma das baquetas. Aliás, essa foi a Única música o Kiss que tocou nas rádios naquela década! (Ao menos aqui no Brasil, só teriam música em mídia em 1993, com a balada “Forever”).
Embora a banda já tivesse dez anos de estrada, foi tratada como uma banda “nova”. O país, que foi apresentado à teatralidade no rock no ano anterior com a Blitz, agora encontrava a teatralidade-ficção; houve muito mais estardalhaço na mídia na chegada do Kiss em 83 do que no lançamento dos Secos&Molhados (que também usavam maquiagem) em 1973.
A Somtrês lançou um dos seus pôsters-revistas sobre o Kiss, era um estouro, pois souberam fazer o “negócio” direitinho: Tinha a discografia da banda, a história e a lenda estava escrita lá: Genne Simmons tomava pílula para ter hemorragia interna no show, e por isso cuspia sangue; e ‘teria’ injetado silicone na lingua para ela ficar daquele tamanho. É incrível, mas acreditamos naquilo, na época! Paul Stanley quebrando a guitarra no fim do show era a catarse! E lá colocaram no pôster ele com o braço da guitarra quebrada, em uma foto laranjada. E aquela bateria com “quinhantas” peças do Eric? Nem sabíamos que aquilo era possível de ser tocado.
A ênfase dada a esses dois integrantes (Gene e Paul) era óbvia: os outros dois integrantes clássicos acabaram de ser substituídos, Vinnie Vincent e Eric Carr (esses que vieram ao Brasil) nem eram da banda até o ano anterior (mas foram apresentados como sendo veteranos da banda, óbvio!). Os integrantes clássicos da guitarra e bateria eram Ace Frehley e Peter Criss, nenhum deles estavam mais no Kiss em 1983 – e, a bem da verdade, como a imagem era dos “mascarados”, ninguém estava nem aí para quem era quem.
No programa Flávio Cavalcanti (até lá o Kiss foi pauta!), o apresentador disseminava (mais questionando a veracidade do que estava noticiando) a história de que eles pisavam em pintinhos e significava “Knights in Satan Service”. No Ida Nelson, um colega nosso, o Wendell, comentava a balela que Genne certa vez cortou a gengiva para o efeito do sangue, pois em determinado show teria acabado as pílulas para a hemorragia interna. Com tanta lenda, é claro que só pôde ter sido sucesso imediato, ora!
Aquele baixo em forma de machado de Genne Simmons ficou no inconsciente coletivo de qualquer jovem roqueiro daquela época. O engraçado é que nunca em outro momento Gene usou aquele baixo (chamado de “Axe” ou “Punisher” pela mídia): só naquela turnê (e ainda assim só em algumas músicas) e, ironicamente, foi o baixo que marcou (literalmente, de “Marca” mesmo) sua imagem.
Como li na biografia do Peter Chriss (que resenharei amanhã aqui no Blog), quatro coisas marcaram aquela turnê para o Kiss:
1 – Vieram para cá fazer caixa, pois já estavam sumindo da mídia nos EUA e Japão;
2 – Tiveram parte do equipamento afanado no desembaraço aduaneiro no aeroporto, aqui (bonito, Brasil!);
3 – Foi a última turnê em que usaram maquiagem naquela fase (só a retomaram em 1996).;
5 – Foi a turnê em que tiveram recorde de público até hoje, 130 mil pessoas, no Maracanã.
Detalhe final: Dizem os jornalistas que foi esse show ( e não o de Frank Sinatra, no ano anterior, com 90 mil pessoas no Maracanã) que deflagrou em Medina a ideia de fazer o Rock in Rio em 1985.